segunda-feira, 13 de maio de 2013


 

 

Leia aqui, em primeira mão, a introdução a meu livro inédito
"Histórias Flutuantes" para o qual estou em busca de uma editora.
Possíveis erros peço sejam perdoados, pois o texto ainda não passou por nenhuma revisão 


HISTÓRIAS FLUTUANTES

                                                                     Por : H. James Kutscka

                                                                                                                                                 

 
 
Este livro é dedicado ao meu pai, amante da boa música e da boa literatura que para meu orgulho desde muito tempo carrega em sua carteira um dos poemas agora impresso neste livro.

Também à todas as pessoas que conviveram comigo no intervalo de tempo que dura a história, muito especialmente  ao verdadeiro Pedro Feltrin que já a algum tempo nos deixou para ir comentar as comidas e bebidas das alegres cozinhas dos restaurantes do além.

Ele; tenho a mais absoluta certeza, saberia apreciar e se divertiria muito com este relato.

A todos, cada um a sua maneira, meu muito obrigado por terem enriquecido minha existência.

 

 

                                                                        H. James Kutscka.

INTRODUÇÃO

 

Por mais que em alguns momentos possam parecer delírio do autor, as histórias contidas neste livro aconteceram realmente em um ou outro dos oito dias que levou a barcaça a vapor Benjamim Guimarães para cumprir o trajeto entre Pirapora em Minas Gerais e Juazeiro na Bahia.

A velha Gaiola ( nome ganho no Brasil devido a sua semelhança com uma gaiola de pássaros) que havia servido em seus bons tempos no rio Mississipi nos Estados Unidos agora carregava em suas entranhas outro tipo de gente, população ribeirinha do norte de Minas e sul da Bahia, enquanto docilmente, com a lerdeza da idade, deslizava pelas costas do Velho Chico.

Ele nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais a 1200 metros de altura e desce pro norte uma média de 8 cm por quilômetro até o Atlântico.

Um rio que desce para cima no mapa.

Quando eles, os mapas, começaram a ser feitos, foram primeiramente desenhados por marinheiros do hemisfério norte que usavam a estrela polar para determinar o norte geográfico.

Sabendo onde estava o norte, podiam saber com certo grau de precisão onde se encontravam, uma vez que no mar não tinham outra forma de nortear-se, daí vem a palavra e a razão para que todos os mapas utilizados tragam os estados Unidos e a Europa na parte de cima e a América do sul na parte de baixo.

Ou seja, fomos colocados no porão do mundo por puro acaso.

Isso é visto até hoje por indivíduos mais extremistas como uma das razões principais da existência de muitos dos complexos terceiro mundistas que assolam os povos abaixo da linha do Equador.

E talvez esse complexo - deliram os mais radicais - seja em parte responsável pelo atraso em que a maioria deles vive.

Existem, no entanto, alguns mapas Mundi  sudeados.

Foram desenhados hipoteticamente por marinheiros que navegavam por estas bandas e usavam a constelação do Cruzeiro do Sul para norteá-los, embora no caso fosse mais correto usar o termo sudeá-los.

Nestes mapas de ponta cabeça o Rio São Francisco desceria para baixo, como manda a natureza e o mau uso do idioma, mas isto é pura divagação.

Um rio é uma visão única, embora você olhe para ele todos os dias vendo aparentemente a mesma paisagem, ele é sempre distinto, suas águas são outras, seus peixes de ontem já se foram com a corrente. O que ele traz no momento escondido no seu ventre são coisas diversas das do dia anterior, ou do minuto que acabou de passar, como vagas sensações de de javú, troncos, restos de vegetação das margens, lodo. Lembranças de vidas atiradas nele como se fosse uma grande lixeira. De quando em quando regurgita corpos que um dia quando vivos  não tiveram a sabedoria de respeitar suas águas, ou alguém de sangue ruim perto de suas margens.

Os personagens desta história são todos verdadeiros. Tiveram seus nomes mudados por razões que ao longo da narrativa deverão tornar-se óbvias. 

Criei também um  “alter ego”  para mim, para sentir-me mais à vontade na narrativa   

A época é 1972, o que me lembro bem é que era o início do mês de fevereiro e estava próximo o carnaval.

Também lembro perfeitamente que foi um dos momentos de maior repressão da “ditadura rodízio” que assolou esse país. No instante do tempo em que ocorre esta história entrávamos no segundo ano da impiedosa administração de Emílio Garrastazu Médici.

Como autor penso que o importante destas histórias é terem realmente acontecido, o quanto a vida se mostra imprevisível e fascinante em apenas poucos dias de convivência entre pessoas tão distintas reunidas em um cenário que hoje, seja para o bem ou para o mal, não existe mais, represas ao longo de seu percurso mudaram totalmente o mapa. Em 1974 a de Sobradinho afogou  Pilão Arcado , Remanso , Santa Sé  e Sobradinho, município então de Juazeiro.

Mesmo tendo convivido com o tipo de pessoa que vivia neste universo restrito por apenas um pouco mais de uma semana, a impressão deixada por elas em mim foi tão forte que de certa maneira me sinto em condições de poder reproduzir em minha mente a angustia que devem ter sentido quando, pelo bem do progresso  foram deslocadas do lugar onde nasceram.

Ao todo doze mil famílias, cerca de setenta mil pessoas arrancadas com suas raízes da terra em que nasceram e transplantadas para um novo local vazio de lembranças onde tentariam sobreviver com o pequeno adubo que recebiam das instituições que explorariam o potencial da represa.

Sobradinho foi apenas uma das obras a alterar a geografia do cenário desta história, de lá para cá outras represas foram construídas, cada uma afogando sua cota de cidades sem importância.

Esperei muito tempo para escrever esta história, vários outros livros escritos anteriormente me deram a confiança necessária para agora colocar no papel todos os personagens nela envolvidos sem medo de trair nenhum deles por incompetência.

Os generais já morreram, a ditadura embora seja um desejo sempre latente na mentalidade de alguns personagens retrógrados deste país, se foi, aparentemente para nunca mais voltar como algumas das cidades das margens do rio.

Lembrá-las talvez já fosse motivo suficiente para justificar minha vontade de contar esta história, mas tem muito mais.

A precisão das datas ou ordem em que ocorreram os fatos que serão narrados não me parece essencial.

Os personagens que participam dos acontecimentos a seguir serão: Um publicitário e fotógrafo paulista com vinte e cinco anos na época acreditando (na verdade com muitas dúvidas) poder mudar o mundo.

Alto e magro, possuía um cavanhaque aparado rente e cabelos escuros longos que batiam nos ombros.

Durante toda história o leitor pode imaginar o fotógrafo calçando um tênis branco de couro com meias brancas ou de pés descalços, seja com calças ou com uma bermuda  com as bordas das pernas desfiadas (como mandava a moda da época) ambas de jeans.

O guarda roupa era completado por três batas hindus que se diferenciavam apenas nas cores feitas de um tecido tão leve que eram quase transparentes.

Eram agradáveis, pois no calor reinante deixavam passar a brisa provocada pelo lento movimento da barca e tinham ainda a grande vantagem de que quando lavadas secavam em poucos minutos.    

O leitor poderá imaginar o personagem vestindo a calça ou a bermuda e as diferentes batas como lhe parecer melhor (isto não irá alterar os fatos)

Viajou com ele um jornalista homossexual, especialista na arte de viver bem, responsável por uma coluna extremamente respeitada em um dos maiores jornais do país.

Era baixinho, um pouco gordo, com uma cara que lembrava a do gato de Alice no País das Maravilhas no desenho de Disney, sempre estampando um largo sorriso falso como que cortado por um estilete entre dois lábios finos.

Vestia preferencialmente roupas da Richard´s do Shopping Iguatemi de São Paulo, na época uma das boutiques masculinas mais badaladas e caras da cidade.

Para que o leitor possa melhor compor o personagem ele ao longo da história vai calçar mocassins de camurça sem meias feitos sob medida no Spinelli, inevitavelmente combinando com a cor das calças, camisas e bermudas em tons pastel com predominância do bege e do caqui, (como no caso anterior isto também não irá alterar os fatos).

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Embora já o conhecesse por sua atividade jornalística - e outras não tão lisonjeiras - somente o vim a conhecer pessoalmente nas reuniões de pauta anteriores à viagem.

A idéia de um amigo de colégio, (editor de uma importante revista de bordo) fora reunir-nos para que realizássemos uma matéria sobre a viagem de gaiola no rio São Francisco, mostrando tudo que haveria de atrativo para um eventual turista disposto a buscar o bom e o inusitado em um programa assim.

Pedro Feltrin (esse era o nome do colunista) se encarregaria de fazer o texto da matéria, indicando com seu proverbial bom gosto o que comer, aonde ir e o que comprar em uma aventura dessa, e Janos  Serkovsky (este sou eu, apesar do nome sou brasileiro já de segunda geração)  se encarregaria de mostrar tudo com o devido appetite appeal , tanto o comestível como o geográfico e o humano através de fotografias.

 

 

- Sem essa de fotos retirantes e gente esquelética com olhos enormes em rostos que parecem uvas passa implorando comida Janos, disse o editor em uma das reuniões chamando minha atenção que estava meio dispersa, quero beleza poesia, glamour e muito deste appetiet appeal que vocês publicitários tanto gostam em tudo, desde bundas se as houver (na verdade ao longo da história faltará uma) até o mais simples prato de jabá com jirimun.

Será a matéria central da revista de bordo de uma companhia aérea e Deus sabe como os gringos adoram estas merdas. Deixe os retirantes para Portinari, aquele comunista filho da puta que toma Vat 69 com o dinheiro que ganhou vendendo seus quadros de retirantes famintos para gente com complexo de culpa.

Estas foram mais ou menos as palavras com que em seu mais gentil vocabulário André Fetucci diretor presidente da revista Voar Alto, tentou passar o briefing do trabalho que esperava de nos

Voar Alto era uma revista bem cuidada que na época da repressão quando ainda eram proibidas revistas masculinas, trazia sempre na capa um anjo de recém completados dezoito anos (pra não dar problema com a polícia).  Era notório que para sair na capa da revista os anjos tinham que antes passar pelo inferno com André e ele era esperto o suficiente para não querer problema com menores.

No corpo da revista uma reportagem discreta - e sem maiores pretensões do que as de promover a moça - era ilustrada com fotos um pouco mais desinibidas e sensuais, bordejando a fronteira dos padrões morais impostos pela ditadura.

É claro que estas eram tiradas pelo próprio André em algum lugar charmoso do mundo onde as levava para o abate.

Distância não era problema uma vez que tinha um estoque infindável de passagens grátis de quase todas linhas aéreas existentes e uma gaveta transbordando de vauches dos melhores hotéis  e restaurantes do mundo.

A garota da capa da V A normalmente acabava se dando bem na vida. Como modelo, atriz,esposa de algum pecuarista milionário desavisado que acreditava em contos de fada, ou mesmo garota de programa, do tipo que cobra o suficiente para ser considerada quase uma empresária, como tantos homens de negócios  com os quais tinha mais coisas em comum que o compartilhamento de tempos em tempos de seus lençóis. Fato que ocorria diariamente com um ou outro dos mais bem sucedidos deles, afinal o empresariado deste país não vivia sendo fodido pelos Impostos?

Pois ela era fodida por eles que pagavam caro pelo privilegio, mas à diferença dos impostos este pagamento era feito com alegria, e o equilíbrio voltava à balança social.

Um fodia ao outro e a ditadura fodia a todos nós, a manutenção da ignorância e o atraso da grande maioria do povo era a meta a ser lograda e até o momento os militares estavam se dando muito bem na tarefa de alcançar seus objetivos entre eles, o de perenizar-se no comando da nação.

André tinha passe livre nos subterrâneos do poder e sua revista sobrevivia não apenas de anúncios de companhias aéreas como de anúncios do estado e reportagens favoráveis ao governo.

Não era exatamente a revista para qual eu desejasse trabalhar, mas André fosse quem fosse naqueles dias, fora meu colega de ginásio e quando me convidou não tive coragem de negar-me a fazer o serviço, até porque assinar fotos da V A não era para qualquer fotógrafo e isto seria bom para meu portfólio.

Umas férias de pelo menos dez dias sem despesas, um pagamento nada desprezível pelas fotos e mais a oportunidade de conhecer e documentar um Brasil censurado que não era mostrado na TV porque não interessava ao poder constituído, não era uma má idéia As fotos para a revista seriam como ele queria, mas ninguém poderia me proibir de fazer minhas próprias fotos.

Esta era a parte que mais interessava.

 

Talvez também pudesse escrever algumas poesias para mostrar a realidade deste outro Brasil que estava prestes a conhecer, ao vivo a cores e com odores que suspeitava não fossem dos mais agradáveis.

No ano de 1972 Emerson Fitttipaldi viria sagrar-se o primeiro campeão Brasileiro de Fórmula um, o Palmeiras seria campeão brasileiro de futebol liderado pelo grande Ademir da Guia, seriam lançadas cédulas novas para o cruzeiro em comemoração ao sesquicentenário  da independência  da república, o Dodge Dart era o carro dos sonhos da maioria dos brasileiros, a primeira partida de futebol com transmissão a cores iria acontecer no Brasil entre o Internacional de Porto Alegre e o Caxias por ocasião da abertura da festa da Uva, ainda na televisão os seriados M.A.S.H, Kung Fu com David Carradine  e Os Waltons,  tornar-se-iam sucesso,  e o filme pornográfico mais famoso de todos os tempos “ Garganta Profunda” seria lançado nos Estados unidos, na Alemanha o Grupo Setembro Negro seqüestraria e executaria 11 atletas israelense s durante as Olimpíadas, mas nada disto importaria mais do que os fatos a seguir,  que embora desprezíveis para a memória histórica de um ano não o foram para um pequeno grupo de pessoas que conviveu por pouco mais de uma semana sobre uma plataforma flutuante nas águas do São Francisco

Entre os componentes desta pequena sociedade nesses oito dias um dedo e parte de outro serão perdidos para sempre, um campeão de natação descobrirá que amar pode doer fisicamente mais que emocionalmente, São Cipriano estará encarnado em um barman por alguns instantes durante um desastre - o qual se não estivesse ocupado na minha cabine no momento fatídico talvez pudesse com os poderes de sua santidade ter evitado, uma mulher sem bunda no país que idolatra esta parte da anatomia feminina, será vista e jamais esquecida contemplando o rio desde um barranco com o olhar perdido na imensidão semovente. Leprosos pedirão esmola cantando algo que lembra Dave Brubeck, Jantares e almoços regados à vinhos franceses são servidos por um matador em um restaurante que fica no teto de quem quase não tem o que comer.

Estas são apenas parte das milhões de histórias que um rio carrega em sua memória liquida para o esquecimento do mar, as aqui contadas são as que ficaram flutuando em minha mente e é exatamente como as recordo que pretendo contá-las. Portanto se algum dos envolvidos vier a ler este meu livro e não concordar com a seqüência da narrativa, antecipadamente peço que me desculpe.

Isso tudo ocorreu há muito tempo e minha memória não é a mais a mesma.

Considere-se bem vindo a bordo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

UFOS
Quem como eu gosta do assunto vai curtir essa declaração do ex ministro de defesa do Canadá

Filmagem  incrivelmente bela da lua nascendo na Nova Zelândia  que me foi enviada por uma amiga  que tenho certeza  não se importará que compartilhe com todos vocês.

terça-feira, 7 de maio de 2013

 Insuperáveis!
Para quem não teve a oportunidade de abrir o Google hoje: Dave Brubeck  animado por Saul Bass para o Google. Não é para qualquer um.   


Nova pílula da Felicidade.
Pelo que se pode notar aparentemente 74% dos habitantes  de nosso país já a tomaram
 

sexta-feira, 3 de maio de 2013


REFLEXÕES SEM DOR
Por H. James Kutscka.

  Não sei...  acho que o título é do Millôr, não tenho certeza, em todo caso me pareceu bom demais para ser meu, mas vai ficar assim mesmo que não estou a fim de pensar muito.

  O papo é que sempre me achei um pouco preguiçoso, até que um dia me deparei com as palavras de um lama budista chamado Guelek  Rimpoche: "A preguiça é um misto de gracejo com filosofia."

  De acordo com ele, se apresenta em três situações:

  a) Quando a pessoa fica adiando suas tarefas.

  b) Faz milhares de coisas para escapar do que realmente tem de fazer.

  c) Quando justifica o não fazer nada alegando sua própria incapacidade.

  Fiquei realmente espantado com a perspicácia do lama, e mais ainda com o fato de reconhecer em mim mesmo uma vez ou outra, todas as características acima citadas.

  Só me senti melhor quando lembrei que não podia haver preguiçoso maior  do  um que senta embaixo de uma figueira e exclama para os séculos  que virão. "Aqui fico até descobrir a sabedoria"

  O que nosso caboclo sabiamente quando é pilhado no mundo da Lua, traduziu para. "Tô aqui pensando na morte da bezerra sô!

  É budismo mineiro uai!