Um tributo a Vilén Flusser
Em recente artigo publicado na seção dedicada à cultura da revista Veja, leio ( atrasado) sobre o renascer do interesse dos leitores por Sêneca segundo o autor ( que seguramente pesquisou as livrarias para obter esses dados ) a procura de livros sobre o pai do estoicismo como caminho para a felicidade aumentou significativamente nos últimos tempos.
Se levarmos a serio, essa informação, estamos com graves problemas além dos que já conhecemos, mas o autor não pensa dessa maneira, tanto que termina o texto com a seguinte consideração sobre o fenômeno: “Ainda assim diante de todas tempestades perfeitas que se formam nos céus brasileiros uma boa dose de estoicismo fará bem a todos”. O articulista ( do qual não pretendo citar o nome) dessa forma está fazendo um serviço na medida para o governo que nada mais quer nesse momento que o acomodamento do povo para perpetuar-se no poder.
Foi ai que a coisa pegou.
O que menos o brasileiro precisa agora é ser estoico. Para quem não teve a oportunidade de conhecer a obra de Sêneca, ele é o pai do que no português espontâneo que se ouve nas ruas seria o “Estou cagando e andando”.
Não importa o que se passe, estou cagando e andando, esse seria o segredo para se alcançar a felicidade hoje por aqui e na Roma de seu tempo.
Sêneca nasceu no ano 4 aC e viveu até 65 dc contemporâneo do imperador Nero ( Yes, o doidão do primeiro show com efeitos pirotécnicos da história, aquele que pôs fogo em Roma para criar um cenário adequado à sua arte) de quem foi preceptor a partir de 41dC.
Senador Romano, e conselheiro de Nero, era dono de considerável fortuna o que de certo modo facilita bastante na arte de cagar e andar para os problemas alheios) condição que no meu modo de ver justifica plenamente o conceito de estoicismo que aparece em seu tratado filosófico Consolaciones ( nome bem apropriado pra quem se consola com a merda que eventualmente o cerca) O que pode de certa forma dar um sentido aos fatos é que Sêneca encontrava-se no exílio por crime de adultério quando criou esse conceito. Abatido certamente sofria de depressão, então encerrar-se em si mesmo seria uma maneira compreensível, embora não me pareça nada saudável, de diminuir o sofrimento.
O estoicismo é uma espécie de covardia e não passa de ilusão, você não pode simplesmente “cagar e andar” para a conta de luz, o aumento o irracional da gasolina, para a inflação, o descaso para com a saúde pública, para a insegurança total em que tentamos sobreviver, para a ignorância de quem por vontade popular ou das urnas eletrônicas hoje detém o poder.
O tal artigo lembrou-me da frase tão usada pela igreja na idade média para manter os pobres aldeões sobre seu controle e do dono das terras onde viviam : “Mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico adentrar no reino do Céu”
Isso consolava mentes incultas e ainda hoje consola.
Não.
Recuso entregar minha consciência ao estoicismo como recurso para ser feliz.
Para ser feliz preciso saber que moro num país democrático, decente, onde a corrupção será punida exemplarmente. Não quero filosofia, quero ação, quero que as pessoas honestas e trabalhadoras não desistam da luta pelos seus direitos, até porque à diferença dos que podem fazê-lo, eu não estou “cagando e andando para meu país”.
O processo para a mudança talvez vá doer, mas não importa.
Nossa despótica Liga da Injustiça
Por: H. james kutscka
Aqueles de meus leitores que como eu são aficionados da nona arte (para os
neófitos HQ´s) saberão perfeitamente a que eu me refiro nesse artigo, aqueles
que não o são, se me derem o prazer de seguir lendo, aumentarão sensivelmente o
nível pessoal de cultura inútil e talvez passem a apreciar a arte sequencial.
Não vou gastar meu latim para falar do óbvio: heróis como
Superman , Batman, Mulher Maravilha e
outros bons moços e moças,
integrantes da Liga da Justiça de
um mundo de fantasia, mas para falar de um mundo quase real abordado por Garth
Ennis, roteirista de quadrinhos nascido em 1970 em Belfast, na Irlanda do Norte
( no caso da Irlanda isso faz grande diferença, a do sul tem sua maioria católica
e é uma república independente, já na do norte que segue pertencendo ao Reino
Unido, as desavenças entre protestantes e católicos seguem fazendo vítimas até hoje).
Ter nascido nessa região de conflitos, talvez tenha sido o
principal motivo desencadeador de seu genial texto repleto de humor negro,
violência e sarcasmo.
Seus personagens quase sempre envolvidos com religião e
problemas de violência, são uma mostra cruel do que a humanidade tem de pior e
paradoxalmente de melhor.
Suas criações para os quadrinhos como: Preacher ,
HellBlazer (John Constantine), The Punisher ( Well Comeback Frank e Born) devido
a qualidade e ineditismo foram
promovidas, e para alegria dos fãs, ganharam vida no cinema e televisão.
No meu entender sua única pisada na bola foi com “Crossed”,
onde “exagerou no exagero”, mas essa e apenas a humilde opinião de um admirador.
Mas nesse artigo o que nos interessa é sua genial criação
“The Boys”, série extraída dos quadrinhos espetaculares do mesmo nome lançada o
ano passado pela Amazon Prime, (onde já está em sua segunda temporada) e hoje é
exibida no SBT aos sábados às 00:30 h.
A série, recheada de super heróis com suas roupas e capas
espalhafatosas, traz uma novidade brutal ao mundo da fantasia, novidade que
aproxima muito os personagens ao mundo real: nela os bandidos são os
verdadeiros heróis, e os heróis, cheios de super poderes os reais
bandidos.
“Poderes absolutos corrompem absolutamente”, assim teria se expressado Lord Acton.
A série que desnuda heróis sem caráter abusando de seus
poderes em benefício próprio e de uma corporação, é extremamente bem produzida e
mostra como seria na realidade uma sociedade onde existissem pessoas com
poderes especiais que as diferenciasse dos reles mortais circunstantes.
Recomendo a todos meus leitores que assistam e me digam se a Vought Internacional, corporação à qual pertencem os “heróis”
da série com nomes como: “Homelander” chefe dos “SETE” (uma Liga da
Justiça hipócrita), “Queen Maeve”, “A
Train”, “The Deep” , “Black Noir”, “Storm Front” e por fim uma infeliz que foi
de tonta, “Starligth”, não os lembra uma instituição nacional na qual, (como dizem
nossos vizinhos tudo é proverbialmente maior), os “ONZE” e não sete, compõem
uma liga de seres diferenciados com
super poderes.
Nossos “heróis” são conhecidos por nomes como: Lulu Boca de
Veludo, Carmem Miranda, Amigo do Amigo do Meu Pai, Sapão, Beija Pé, entre
outros impublicáveis e também usam capa.
Aqui a vida imita a arte.
Como na série da TV, o espectador descobre muito tarde que
os heróis não nascem com seus poderes, eles lhes são dados por alguém que deles
se beneficia nas sombras.
Infelizmente, nós seres humanos sem poderes especiais, envelhecemos
rapidamente e na maioria das vezes quando o conhecimento e consequentemente a
sabedoria nos alcança, já é tarde demais.
Nas últimas mais de três décadas, governantes comunistas
disfarçados de inocentes e bem intencionados socialistas, promoveram canalhas a
cargos de poder por lealdade aos seus partidos, não por sua capacidade
comprovada em exercê-los. Deu nisso!
Agora, como no seriado, cabe a nós gente sem poderes, (pelo
menos não aparentes), acabar com os super poderosos antes que eles acabem conosco.
Se Garth Ennis tivesse nascido no Brasil, não precisaria ter
se inspirado nas palavras de John E. E. Dalberg Acton (Lord Acton para os
íntimos) bastaria assistir os noticiários da TV.
Da ficção superlativa à abjeta realidade explícita, sejam todos
bem vindos ao verdadeiro mundo dos quadrinhos adultos.
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