domingo, 8 de dezembro de 2013

O corpo humano como arte em movimento
Busquei URL,mas  não consegui encontrar, então digite o site abaixo e enjoy 
http://www.fatocurioso.com/danca-em-um-nivel-poucas-vezes-visto/

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

GRILOS CANTAM COMO ANJOS

O som que você ouvirá se clicar no link abaixo  é conformado por duas trilhas sonoras  uma na velocidade normal outra em  uma velocidade bem mais lenta . São do mesmo som, o som de grilos em uma noite de verão .
A lenta parece um coro de anjos. A natureza não se cansa de me surpreender.
Isso sim é divino.


 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Apareceu hoje no blog de Darian  Land http://darianlandsblog.blogspot.com.br/

H. James Kutscka's Trilogy
For close to six months I have been translating from the Portuguese Brazilian 
writer H. James Kutscka's trilogy that consists of Leilah: God's Divorce from Her; Lives: Mortal Fun; and God Doesn't Throw Dice. There are five hundred and thirty-four keyed-in computer-generated pages in English that are full of alternate reality action on an earth we all recognize, perhaps with life taking place in a parallel dimension.

Word of warning:Some strong scenes and language.

Look for it in the future in your local bookstore. We are looking for a cutting-edge publisher. 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Hubble Extreme Deep Field
 
 
Olhem isso e depois se perguntem : Será que pode existir vida inteligente além de nós no universo?
Para ir mudando de slide basta ir clicando sobre as fotoss

segunda-feira, 15 de julho de 2013

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Av angélica


Av. Angélica 1465

Um endereço de outro planeta

 

Dito local fica em frente à Praça Buenos Aires e é ocupado por uma das unidades da Drogaria São Paulo.

Na noite de hoje precisei parar no local para comprar um remédio para minha mãe e me dei conta que apesar de o prédio ter um recuo próprio para criar um estacionamento para clientes não o tinha,  como diga-se de passagem , os tem o Supermercado Pão de açúcar um pouco mais acima, a drogaria Onofre ( Também  na mesma avenida  ) e a Pague Menos .

Depois de com chuva, parar a mais de um quarteirão da dita drogarias perguntei  à atendente o por que de não utilizar o amplo espaço frontal de recuo para facilitar a vida dos clientes? Ela  solicita  me disse que tinham um convênio com um estacionamento na rua Piauí.

Diante da incoerência de ter espaço à porta  e ter um convênio na rua Piauí não me conformei e segui perguntando a razão de tal incongruência  

A resposta justifica o título desta postagem.

Os moradores desta região de Higienópolis devem ser seres de outro planeta, um lugar onde a educação e a civilização ainda não avançaram ao ponto de haver respeito pelos outros cidadãos que compartem o espaço comum de uma cidade.

Vagas para automóveis ali, iriam ferir suas pupilas não acostumadas á feiura de um estacionamento, mesmo que esse não interferisse com o espaço reservado aos pedestres.  Até aí ridículo, mas pouco considerando o que vem a seguir.

Fui informado pelos atendentes que os mesmos vizinhos intolerantes fizeram a dita drogaria retirar uma rampa para cadeirantes construída na entrada que avançava  alguns centímetros sobre a calçada, agora os mesmos atendentes colocam uma rampa de madeira sempre que alguém necessita  para logo em seguida retirar evitando reclamações.

Evidentemente não sem que antes, a pessoa em questão, tenha de humilhar-se pedindo ajuda para adentrar ao recinto.

Essas são as mesmas pessoas diferenciadas que quiseram impedir uma estação de metro nas cercanias.

Sou morador de Higienópolis, me criei aqui, viajei o mundo e hoje estou de volta. Repudio  firmemente a prepotência destas pessoas que estão querendo transformar o bairro de acordo com suas mentalidades restritas.

Convido à todos que a compartilham deste meu sentimento que divulguem essa mensagem até que chegue aos ouvidos de alguma autoridade que tenha o poder de inverter nesta situação.

Por uma cidade de inclusão social e que em lugar de criar problemas crie facilidades para todos seus habitantes, independente de classe social, raça, credo ou condição física.   

H. James Kutscka

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Aqui vcs vão poder ouvir uma chamada telefônica da Evolução para saber como vão as coisas com o bicho folha. Illarious!  
Clique no URL abaixo

segunda-feira, 13 de maio de 2013


 

 

Leia aqui, em primeira mão, a introdução a meu livro inédito
"Histórias Flutuantes" para o qual estou em busca de uma editora.
Possíveis erros peço sejam perdoados, pois o texto ainda não passou por nenhuma revisão 


HISTÓRIAS FLUTUANTES

                                                                     Por : H. James Kutscka

                                                                                                                                                 

 
 
Este livro é dedicado ao meu pai, amante da boa música e da boa literatura que para meu orgulho desde muito tempo carrega em sua carteira um dos poemas agora impresso neste livro.

Também à todas as pessoas que conviveram comigo no intervalo de tempo que dura a história, muito especialmente  ao verdadeiro Pedro Feltrin que já a algum tempo nos deixou para ir comentar as comidas e bebidas das alegres cozinhas dos restaurantes do além.

Ele; tenho a mais absoluta certeza, saberia apreciar e se divertiria muito com este relato.

A todos, cada um a sua maneira, meu muito obrigado por terem enriquecido minha existência.

 

 

                                                                        H. James Kutscka.

INTRODUÇÃO

 

Por mais que em alguns momentos possam parecer delírio do autor, as histórias contidas neste livro aconteceram realmente em um ou outro dos oito dias que levou a barcaça a vapor Benjamim Guimarães para cumprir o trajeto entre Pirapora em Minas Gerais e Juazeiro na Bahia.

A velha Gaiola ( nome ganho no Brasil devido a sua semelhança com uma gaiola de pássaros) que havia servido em seus bons tempos no rio Mississipi nos Estados Unidos agora carregava em suas entranhas outro tipo de gente, população ribeirinha do norte de Minas e sul da Bahia, enquanto docilmente, com a lerdeza da idade, deslizava pelas costas do Velho Chico.

Ele nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais a 1200 metros de altura e desce pro norte uma média de 8 cm por quilômetro até o Atlântico.

Um rio que desce para cima no mapa.

Quando eles, os mapas, começaram a ser feitos, foram primeiramente desenhados por marinheiros do hemisfério norte que usavam a estrela polar para determinar o norte geográfico.

Sabendo onde estava o norte, podiam saber com certo grau de precisão onde se encontravam, uma vez que no mar não tinham outra forma de nortear-se, daí vem a palavra e a razão para que todos os mapas utilizados tragam os estados Unidos e a Europa na parte de cima e a América do sul na parte de baixo.

Ou seja, fomos colocados no porão do mundo por puro acaso.

Isso é visto até hoje por indivíduos mais extremistas como uma das razões principais da existência de muitos dos complexos terceiro mundistas que assolam os povos abaixo da linha do Equador.

E talvez esse complexo - deliram os mais radicais - seja em parte responsável pelo atraso em que a maioria deles vive.

Existem, no entanto, alguns mapas Mundi  sudeados.

Foram desenhados hipoteticamente por marinheiros que navegavam por estas bandas e usavam a constelação do Cruzeiro do Sul para norteá-los, embora no caso fosse mais correto usar o termo sudeá-los.

Nestes mapas de ponta cabeça o Rio São Francisco desceria para baixo, como manda a natureza e o mau uso do idioma, mas isto é pura divagação.

Um rio é uma visão única, embora você olhe para ele todos os dias vendo aparentemente a mesma paisagem, ele é sempre distinto, suas águas são outras, seus peixes de ontem já se foram com a corrente. O que ele traz no momento escondido no seu ventre são coisas diversas das do dia anterior, ou do minuto que acabou de passar, como vagas sensações de de javú, troncos, restos de vegetação das margens, lodo. Lembranças de vidas atiradas nele como se fosse uma grande lixeira. De quando em quando regurgita corpos que um dia quando vivos  não tiveram a sabedoria de respeitar suas águas, ou alguém de sangue ruim perto de suas margens.

Os personagens desta história são todos verdadeiros. Tiveram seus nomes mudados por razões que ao longo da narrativa deverão tornar-se óbvias. 

Criei também um  “alter ego”  para mim, para sentir-me mais à vontade na narrativa   

A época é 1972, o que me lembro bem é que era o início do mês de fevereiro e estava próximo o carnaval.

Também lembro perfeitamente que foi um dos momentos de maior repressão da “ditadura rodízio” que assolou esse país. No instante do tempo em que ocorre esta história entrávamos no segundo ano da impiedosa administração de Emílio Garrastazu Médici.

Como autor penso que o importante destas histórias é terem realmente acontecido, o quanto a vida se mostra imprevisível e fascinante em apenas poucos dias de convivência entre pessoas tão distintas reunidas em um cenário que hoje, seja para o bem ou para o mal, não existe mais, represas ao longo de seu percurso mudaram totalmente o mapa. Em 1974 a de Sobradinho afogou  Pilão Arcado , Remanso , Santa Sé  e Sobradinho, município então de Juazeiro.

Mesmo tendo convivido com o tipo de pessoa que vivia neste universo restrito por apenas um pouco mais de uma semana, a impressão deixada por elas em mim foi tão forte que de certa maneira me sinto em condições de poder reproduzir em minha mente a angustia que devem ter sentido quando, pelo bem do progresso  foram deslocadas do lugar onde nasceram.

Ao todo doze mil famílias, cerca de setenta mil pessoas arrancadas com suas raízes da terra em que nasceram e transplantadas para um novo local vazio de lembranças onde tentariam sobreviver com o pequeno adubo que recebiam das instituições que explorariam o potencial da represa.

Sobradinho foi apenas uma das obras a alterar a geografia do cenário desta história, de lá para cá outras represas foram construídas, cada uma afogando sua cota de cidades sem importância.

Esperei muito tempo para escrever esta história, vários outros livros escritos anteriormente me deram a confiança necessária para agora colocar no papel todos os personagens nela envolvidos sem medo de trair nenhum deles por incompetência.

Os generais já morreram, a ditadura embora seja um desejo sempre latente na mentalidade de alguns personagens retrógrados deste país, se foi, aparentemente para nunca mais voltar como algumas das cidades das margens do rio.

Lembrá-las talvez já fosse motivo suficiente para justificar minha vontade de contar esta história, mas tem muito mais.

A precisão das datas ou ordem em que ocorreram os fatos que serão narrados não me parece essencial.

Os personagens que participam dos acontecimentos a seguir serão: Um publicitário e fotógrafo paulista com vinte e cinco anos na época acreditando (na verdade com muitas dúvidas) poder mudar o mundo.

Alto e magro, possuía um cavanhaque aparado rente e cabelos escuros longos que batiam nos ombros.

Durante toda história o leitor pode imaginar o fotógrafo calçando um tênis branco de couro com meias brancas ou de pés descalços, seja com calças ou com uma bermuda  com as bordas das pernas desfiadas (como mandava a moda da época) ambas de jeans.

O guarda roupa era completado por três batas hindus que se diferenciavam apenas nas cores feitas de um tecido tão leve que eram quase transparentes.

Eram agradáveis, pois no calor reinante deixavam passar a brisa provocada pelo lento movimento da barca e tinham ainda a grande vantagem de que quando lavadas secavam em poucos minutos.    

O leitor poderá imaginar o personagem vestindo a calça ou a bermuda e as diferentes batas como lhe parecer melhor (isto não irá alterar os fatos)

Viajou com ele um jornalista homossexual, especialista na arte de viver bem, responsável por uma coluna extremamente respeitada em um dos maiores jornais do país.

Era baixinho, um pouco gordo, com uma cara que lembrava a do gato de Alice no País das Maravilhas no desenho de Disney, sempre estampando um largo sorriso falso como que cortado por um estilete entre dois lábios finos.

Vestia preferencialmente roupas da Richard´s do Shopping Iguatemi de São Paulo, na época uma das boutiques masculinas mais badaladas e caras da cidade.

Para que o leitor possa melhor compor o personagem ele ao longo da história vai calçar mocassins de camurça sem meias feitos sob medida no Spinelli, inevitavelmente combinando com a cor das calças, camisas e bermudas em tons pastel com predominância do bege e do caqui, (como no caso anterior isto também não irá alterar os fatos).

.

Embora já o conhecesse por sua atividade jornalística - e outras não tão lisonjeiras - somente o vim a conhecer pessoalmente nas reuniões de pauta anteriores à viagem.

A idéia de um amigo de colégio, (editor de uma importante revista de bordo) fora reunir-nos para que realizássemos uma matéria sobre a viagem de gaiola no rio São Francisco, mostrando tudo que haveria de atrativo para um eventual turista disposto a buscar o bom e o inusitado em um programa assim.

Pedro Feltrin (esse era o nome do colunista) se encarregaria de fazer o texto da matéria, indicando com seu proverbial bom gosto o que comer, aonde ir e o que comprar em uma aventura dessa, e Janos  Serkovsky (este sou eu, apesar do nome sou brasileiro já de segunda geração)  se encarregaria de mostrar tudo com o devido appetite appeal , tanto o comestível como o geográfico e o humano através de fotografias.

 

 

- Sem essa de fotos retirantes e gente esquelética com olhos enormes em rostos que parecem uvas passa implorando comida Janos, disse o editor em uma das reuniões chamando minha atenção que estava meio dispersa, quero beleza poesia, glamour e muito deste appetiet appeal que vocês publicitários tanto gostam em tudo, desde bundas se as houver (na verdade ao longo da história faltará uma) até o mais simples prato de jabá com jirimun.

Será a matéria central da revista de bordo de uma companhia aérea e Deus sabe como os gringos adoram estas merdas. Deixe os retirantes para Portinari, aquele comunista filho da puta que toma Vat 69 com o dinheiro que ganhou vendendo seus quadros de retirantes famintos para gente com complexo de culpa.

Estas foram mais ou menos as palavras com que em seu mais gentil vocabulário André Fetucci diretor presidente da revista Voar Alto, tentou passar o briefing do trabalho que esperava de nos

Voar Alto era uma revista bem cuidada que na época da repressão quando ainda eram proibidas revistas masculinas, trazia sempre na capa um anjo de recém completados dezoito anos (pra não dar problema com a polícia).  Era notório que para sair na capa da revista os anjos tinham que antes passar pelo inferno com André e ele era esperto o suficiente para não querer problema com menores.

No corpo da revista uma reportagem discreta - e sem maiores pretensões do que as de promover a moça - era ilustrada com fotos um pouco mais desinibidas e sensuais, bordejando a fronteira dos padrões morais impostos pela ditadura.

É claro que estas eram tiradas pelo próprio André em algum lugar charmoso do mundo onde as levava para o abate.

Distância não era problema uma vez que tinha um estoque infindável de passagens grátis de quase todas linhas aéreas existentes e uma gaveta transbordando de vauches dos melhores hotéis  e restaurantes do mundo.

A garota da capa da V A normalmente acabava se dando bem na vida. Como modelo, atriz,esposa de algum pecuarista milionário desavisado que acreditava em contos de fada, ou mesmo garota de programa, do tipo que cobra o suficiente para ser considerada quase uma empresária, como tantos homens de negócios  com os quais tinha mais coisas em comum que o compartilhamento de tempos em tempos de seus lençóis. Fato que ocorria diariamente com um ou outro dos mais bem sucedidos deles, afinal o empresariado deste país não vivia sendo fodido pelos Impostos?

Pois ela era fodida por eles que pagavam caro pelo privilegio, mas à diferença dos impostos este pagamento era feito com alegria, e o equilíbrio voltava à balança social.

Um fodia ao outro e a ditadura fodia a todos nós, a manutenção da ignorância e o atraso da grande maioria do povo era a meta a ser lograda e até o momento os militares estavam se dando muito bem na tarefa de alcançar seus objetivos entre eles, o de perenizar-se no comando da nação.

André tinha passe livre nos subterrâneos do poder e sua revista sobrevivia não apenas de anúncios de companhias aéreas como de anúncios do estado e reportagens favoráveis ao governo.

Não era exatamente a revista para qual eu desejasse trabalhar, mas André fosse quem fosse naqueles dias, fora meu colega de ginásio e quando me convidou não tive coragem de negar-me a fazer o serviço, até porque assinar fotos da V A não era para qualquer fotógrafo e isto seria bom para meu portfólio.

Umas férias de pelo menos dez dias sem despesas, um pagamento nada desprezível pelas fotos e mais a oportunidade de conhecer e documentar um Brasil censurado que não era mostrado na TV porque não interessava ao poder constituído, não era uma má idéia As fotos para a revista seriam como ele queria, mas ninguém poderia me proibir de fazer minhas próprias fotos.

Esta era a parte que mais interessava.

 

Talvez também pudesse escrever algumas poesias para mostrar a realidade deste outro Brasil que estava prestes a conhecer, ao vivo a cores e com odores que suspeitava não fossem dos mais agradáveis.

No ano de 1972 Emerson Fitttipaldi viria sagrar-se o primeiro campeão Brasileiro de Fórmula um, o Palmeiras seria campeão brasileiro de futebol liderado pelo grande Ademir da Guia, seriam lançadas cédulas novas para o cruzeiro em comemoração ao sesquicentenário  da independência  da república, o Dodge Dart era o carro dos sonhos da maioria dos brasileiros, a primeira partida de futebol com transmissão a cores iria acontecer no Brasil entre o Internacional de Porto Alegre e o Caxias por ocasião da abertura da festa da Uva, ainda na televisão os seriados M.A.S.H, Kung Fu com David Carradine  e Os Waltons,  tornar-se-iam sucesso,  e o filme pornográfico mais famoso de todos os tempos “ Garganta Profunda” seria lançado nos Estados unidos, na Alemanha o Grupo Setembro Negro seqüestraria e executaria 11 atletas israelense s durante as Olimpíadas, mas nada disto importaria mais do que os fatos a seguir,  que embora desprezíveis para a memória histórica de um ano não o foram para um pequeno grupo de pessoas que conviveu por pouco mais de uma semana sobre uma plataforma flutuante nas águas do São Francisco

Entre os componentes desta pequena sociedade nesses oito dias um dedo e parte de outro serão perdidos para sempre, um campeão de natação descobrirá que amar pode doer fisicamente mais que emocionalmente, São Cipriano estará encarnado em um barman por alguns instantes durante um desastre - o qual se não estivesse ocupado na minha cabine no momento fatídico talvez pudesse com os poderes de sua santidade ter evitado, uma mulher sem bunda no país que idolatra esta parte da anatomia feminina, será vista e jamais esquecida contemplando o rio desde um barranco com o olhar perdido na imensidão semovente. Leprosos pedirão esmola cantando algo que lembra Dave Brubeck, Jantares e almoços regados à vinhos franceses são servidos por um matador em um restaurante que fica no teto de quem quase não tem o que comer.

Estas são apenas parte das milhões de histórias que um rio carrega em sua memória liquida para o esquecimento do mar, as aqui contadas são as que ficaram flutuando em minha mente e é exatamente como as recordo que pretendo contá-las. Portanto se algum dos envolvidos vier a ler este meu livro e não concordar com a seqüência da narrativa, antecipadamente peço que me desculpe.

Isso tudo ocorreu há muito tempo e minha memória não é a mais a mesma.

Considere-se bem vindo a bordo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

UFOS
Quem como eu gosta do assunto vai curtir essa declaração do ex ministro de defesa do Canadá

Filmagem  incrivelmente bela da lua nascendo na Nova Zelândia  que me foi enviada por uma amiga  que tenho certeza  não se importará que compartilhe com todos vocês.

terça-feira, 7 de maio de 2013

 Insuperáveis!
Para quem não teve a oportunidade de abrir o Google hoje: Dave Brubeck  animado por Saul Bass para o Google. Não é para qualquer um.   


Nova pílula da Felicidade.
Pelo que se pode notar aparentemente 74% dos habitantes  de nosso país já a tomaram
 

sexta-feira, 3 de maio de 2013


REFLEXÕES SEM DOR
Por H. James Kutscka.

  Não sei...  acho que o título é do Millôr, não tenho certeza, em todo caso me pareceu bom demais para ser meu, mas vai ficar assim mesmo que não estou a fim de pensar muito.

  O papo é que sempre me achei um pouco preguiçoso, até que um dia me deparei com as palavras de um lama budista chamado Guelek  Rimpoche: "A preguiça é um misto de gracejo com filosofia."

  De acordo com ele, se apresenta em três situações:

  a) Quando a pessoa fica adiando suas tarefas.

  b) Faz milhares de coisas para escapar do que realmente tem de fazer.

  c) Quando justifica o não fazer nada alegando sua própria incapacidade.

  Fiquei realmente espantado com a perspicácia do lama, e mais ainda com o fato de reconhecer em mim mesmo uma vez ou outra, todas as características acima citadas.

  Só me senti melhor quando lembrei que não podia haver preguiçoso maior  do  um que senta embaixo de uma figueira e exclama para os séculos  que virão. "Aqui fico até descobrir a sabedoria"

  O que nosso caboclo sabiamente quando é pilhado no mundo da Lua, traduziu para. "Tô aqui pensando na morte da bezerra sô!

  É budismo mineiro uai!

sábado, 27 de abril de 2013


Um presente para todos.
A maior banda de Rock  and Roll de todos os tempos  no Kennedy Center para recordar  os tempos em que a musica dizia algo;
Ckick no link abaixo e deixe-se levar
  
Mais uma crônica do livro em andamento
" De Minhas Mulheres Sei Eu"


A mini-luneta amarela

das múltiplas realidades

                                                                                      Por: H. James Kutscka



Estando tudo correto, a luz apagada e apenas uma lâmpada direcional  iluminando o teclado do Lap-top tirou do bolso a mini- luneta  das múltiplas realidades que  havia ganhado dela e trazia escondida.

É bom que se fale aqui que uma luneta das múltiplas realidades não é um item muito fácil de ser encontrado neste vasto planeta de Deus, quanto mais uma mini- luneta das múltiplas realidades  pintada de amarelo.

Amarelo brilhante da cor do sol refletido debaixo para cima nas folhas irrequietas das copas dos altos Eucaliptos em um entardecer de inverno

Elas não podem ser compradas, devem ser ganhas e somente devem ser utilizadas longe de quaisquer testemunhas.

Como ele a conseguiu não devo contar aqui.

Seu custo? Talvez um amor perdido, um sussurro no escuro para ninguém,  uma música, uma coleção delas, uma lembrança que não se foi com as outras, quem poderia dizer ou por um preço em tal objeto?

São extremamente raras, na sua confecção misturados com a argila, tinta e os cristais entram elementos tão insólitos como a ausência, angustia, recordações , ( boas e más), amor, desespero e um pouco de lágrimas não vertidas (como utilizam esses sentimentos e uma inexistência –o caso das lágrima não vertidas-  na composição de um objeto sólido, não me perguntem, mas dizem os estudiosos da Cabala que em certas circunstâncias e obedecendo a certas regras tal feito seria exequível em determinadas longitudes e latitudes sob também pré-determinadas fases da lua, ou simplesmente a aceite como um dos mistérios da fé.Para que seu funcionamento seja o esperado pelo fabricante, estes mesmos elementos devem ser encontrados  na pessoa que a manuseia.

Outra regra que deve ser respeitada por quem por sorte for presenteado com uma é a de entender que nem tudo que ela mostra é necessariamente verdade em alguma realidade alternativa, mas pode ser.

Escrever sobre acontecimentos vistos através da luneta não é aconselhado, mas se alguém resolver fazê-lo o fará ciente de que pode estar escrevendo pura bobagem.

Sabedor de tudo isso colocou a mini-luneta no seu olho direito, fechou o esquerdo e olhou para o azul da tela do computador.

Imediatamente uma miríade de imagens se formou em sua frente, cada uma com vida própria, era como se houvesse entrado em uma sala cujas paredes estivessem cobertas com inúmeros monitores que pareciam existir até o infinito o interessante é que em todos eles era ele o ator principal.

Uma imagem específica lhe chamou a atenção, ele então se dedicou a observá-la, esquecendo as outras.

Páginas escritas com poesias estavam espalhadas pelo asfalto úmido ainda do chuvisco de inverno que havia caído no final da tarde, para piorar ainda mais as coisas. Ele curvado as juntava do chão e tentava organizá-las, limpando as folhas  o melhor possível e  as secando quando o papel por acaso não estava encharcado nas pernas da calça  de jeans no frio da rua deserta  de madrugada. Tratava de alguma forma salvar o que ainda fosse possível de um sentimento que a poucas horas devia ter morrido , mas contrariando todas alternativas lógicas continuava vivo.

As folhas ele sabia seriam posteriormente guardadas dentro de uma caixa de sapatos que trazia estampada em sua tampa a marca Clark*.

* Marca famosa de calçados para homens que conheceu o seu apogeu em meados dos anos 50 no Brasil  N.A.

Talvez uma caixa de papelão não fosse o lugar mais apropriado para se guardar assim escondido dos possíveis olhares curiosos um pedaço particular do tempo, mas na verdade ela resistiu muitas mudanças e sobreviveu galhardamente, guardando aquelas lembranças e a marca que trazia estampada na tampa, da qual poucas pessoas ainda se recordam. 

Na fúria daquela tarde ao se dar conta de que o que com tanto sofrimento deixará de tomar para si que acabara sendo tomado por outro sem escrúpulos, mas com um puta tesão, em uma excursão de férias promovida pelos alunos de medicina da USP à Bariloche  na qual sua namorada fora sozinha.

Desde então ele passou a antipatizar com médicos em geral.

Nada justificava o comportamento dela, a não se, talvez, os hormônios dos dezoito anos, mas ele soubera controlar os dele, ela não.

Na tela que ele via através da luneta uma frase apareceu rápida como uma mensagem subliminar “A ocasião faz o ladrão” como o letreiro de um filme anunciando o próximo capítulo.

Ele nunca quis roubar nada, ela até se ofereceu para que ele lhe tirasse a virgindade, o que recusou por covardia ou cavalheirismo ( isso existia na época). Agora se sentia um idiota.

E mais que um idiota, todas as poesias que atirara pela janela num acesso de fúria intelectual lhe fizeram tanta falta poucas horas depois que ali estava,  catando o que o vento deixara e chorando pelas que se haviam perdido.

Foi um momento importante de crescimento de menino pra homem,  se existe alguma  lição a aprender  com esse fato é vaga.

Talvez os sentimentos superem a possessão da carne? 

Ser corno pode ser triste, mas sempre, de alguma forma se você analisar bem vai perceber que colaborou de maneira vital para receber a honraria.

Em alguma outra realidade eventualmente nada daquilo havia acontecido, mas ele preferia aquela.

De qualquer forma salvou-se a poesia ( que foi possível recuperar) salvaram-se as músicas e por certo as boas lembranças. Ele podia dizer com toda veracidade na voz que somente se arrependia na vida daquilo que não havia feito. Com o passar do tempo salvou-se todo o demais.

Hoje ele tem uma mini-luneta amarela que possibilita ver múltiplas realidades e tudo que vê quase sempre tem um final feliz.


terça-feira, 23 de abril de 2013


NADA PARA ACRESCENTAR

NO MOMENTO

Por: H. James Kutscka 


Sentado frente à tela iluminada do computador com o olhar perdido na folha branca emoldurada em azul celeste repleta de instruções do Word, apalpava ideias com mãos imateriais como quem escolhe no caixote do supermercado uma fruta no ponto para o consumo imediato.

Passado algum tempo nesse exercício espiritual encontrou uma que parecia apetitosa.

Ironicamente; “o sentido da vida é a morte”.

Tendo colhido essa ideia, divagado algum tempo sobre suas implicações e certo de haver entendido o conceito, se deu conta de que cada minuto de vida contemplando aquela tela vazia era um minuto irremediavelmente perdido. Uma vitória do tempo sobre a perseverança. Da entropia sobre o instinto de preservação.

Sendo assim sem perder tempo suicidou-se mentalmente de inúmeras maneiras.

Primeiro das formas que em teoria seriam indolores, como overdose de calmantes. Entusiasmado com o resultado seguiu em uma escalada para o Gran Guiñol, subitamente percebeu que a espetaculosidade do processo seria elemento importante para a catarse.  Tomou estricnina e morreu se contorcendo e espumando pela boca ( havia visto espiões se suicidando desta forma em filmes para evitar a tortura de um interrogatório) foi um suicídio onde não faltou referências.

Afinal nada mais aborrecido do que um suicídio levado a cabo com o uso de calmantes. Coisa de gay.

Cortou os pulsos em uma banheira de água quente e sangrou até a morte, sufocou-se com um saco plástico na cabeça enquanto praticava o ato solitário, no mais puro estilo inglês.

Saltou de um prédio. A última coisa que passou por sua cabeça foi a visão de uma formiga carregando uma folhinha quando estava a milionésimos de segundos de espatifar sua cabeça na calçada esburacada há mais de 200 quilômetros por hora.

Para o “gran-finale” deixou o Hara Kiri, morreu de joelhos contemplando as próprias tripas emporcalhando o “tatami” à sua frente.

Quando finalmente o coração parou, desabou de cara em suas entranhas em um espetáculo de absoluto mau gosto.

O processo de múltiplos suicídios não durou mais de quarenta minutos.

Fato consumado e com a certeza de ter esgotado o potencial daquela ideia, deu-se uma nova vida

Por trás da tela branca que continuava a dominar seu campo de visão estavam inúmeras histórias esperando para serem escritas.

Agora era só uma questão de escolher as teclas certas e “done”.

Voltou então sem pressa a apalpar ideias como se estivesse escolhendo uma fruta no ponto para ser degustada em um caixote de supermercado.


22/02/13
Uma consideração anterior a haver escrito meu  ultimo livro lançado:  "Deus Joga Dados
 
O Homem

Depois de milhões de tentativas com ossos e músculos a natureza finalmente tentou uma opção absurda juntou um monte de ossos na vertical, sustentou-os com músculos e alguns outros ossos horizontais pra dar volume e conter alguns órgãos que permitissem ao animal alimentar-se digerir os alimentos com os quais geraria a energia suficiente para poder mover-se e encimou tudo isso com um cérebro um pouco maior do que os em uso na época e:"voilá”, alguns reles milhões de anos após , eis-nos aqui. Embora  Albert Einsten discorde, eu diria que Deus sim, joga dados.

terça-feira, 16 de abril de 2013


A menina que odiava livros.
 Vale à pena mostrar  para  as crianças aprenderem as maravilhas que existem escondidas entre as duas capas de um livro  
Click no url abaixo
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=y8hb5fsnrRM

segunda-feira, 8 de abril de 2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

 
 
Na Índia além de algumas autoridades  religiosas acharem normal mulheres serem estupradas, olhem só o que os criativos da J Walter Thompson ( agência que no passado me ensinou muito do que sei e na qual me orgulho ter trabalhado em vários países ) andaram fazendo em uma campanha para o Ford Figo cujo ponto de venda principal era ter um grande espaço no porta malas.
Pra completar o cara no volante um sósia do Berlusconi.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Para matar a saudade.

Um dos heróis de minha infância, muito antes de se falar em ecologia e sustentabilidade.
Clique no link e divirta-se  

Cristo andava sobre ela e agora você pode sentar nela
 
Grandes ideias são ideias aparentemente simples.
Algo insólito como sentar na água. 
 
 
Wave chairs from Calligaris

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Para lembrar um de nossos maiores heróis.
Um herói só o é realmente quando transcende sua descendência  e é admirado por todos independente de raça cor  e credo.  


https://www.facebook.com/photo.php?v=10151122513091286&set=vb.725961285&type=2&theater
Todos nossos problemas vistos dessa distância devem tomar uma dimensão mais realista.
Vale a pena assistir a esse vídeo da Nasa.
É interessante notar a semelhança entre as luzes vistas do espaço dos agrupamentos humanos na superfície da Terra  com as luzes emitidas pela colônias de algas bio-luminescentes  que as vezes aparecem nos oceanos. Visto de uma perspectiva cósmica temos a mesma importância que elas
 
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quarta-feira, 27 de março de 2013

sábado, 23 de março de 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

Disney e Dalí uma combinação improvável mas fantástica

Disney e Dalí uma combinação improvável, mas
com um resultado fantástico.
 Assistam esse curta que surgiu de uma ideia  de Roy Disney  irmão do Walt.
Não sabia da existência deste vídeo , mas foi uma agradável surpresa vê-lo.
Espero que assim seja para todos que visitarem meu blog.
Assista no www.youtube.com/watch?v=1GFkN4deuZU

quinta-feira, 7 de março de 2013

Leia aqui o primeiro capítulo do início da trilogia de Rick Hammad  :
Lail-Ah " O divórcio de Deus "
 

1 – TENTAÇÕES NO DESERTO


WASHINGTON, DC 30 de Julho de 1990. Segunda-feira
                                                                                                                
(Três dias antes da invasão do Kwait)

 Eram quase sete horas da noite em Washington, ou quase quatro da manhã no Iraque.
 Àquela hora em Langley, na divisão do Oriente médio da CIA, o encarregado de turno Jim Garrison debruçava- se sobre um monitor, observando as imagens transmitidas do sul do Iraque pelo satélite FSE 19 ( Flying Spy Eye ),-mais conhecido como “Devil's Eye”. O espião orbital iniciara suas transmissões havia dois minutos. Neste exato momento, Garrison  acendeu um cigarro. O brilho da chama do isqueiro por um segundo ofuscou sua vista. Apenas o tempo suficiente para que ele deixasse de notar um pequeno clarão esverdeado que brilhou,  como se tivesse sido programado, num lugar onde deveria haver somente a escuridão nua do deserto. Quando suas pupilas contraídas pelo fulgor da  chama do isqueiro voltaram a dilatar-se, adaptando-se à penumbra da sala, nada mais havia para ser visto, exeto a tediosa  paisagem do deserto.
 Poderia muito bem ser as portas do inferno se abrindo e vomitando  todos os seus demônios; ninquém teria se dado conta. Nem mesmo a nação mais poderosa da terra com toda sua tecnologia de espionagem.
 Iraque
Trezentos e oitenta km à leste de Bagdad
 Cruzando o deserto Kamil Haddad voltava sozinho para sua casa, em Bagdad. Como ocupava um alto cargo no serviço de inteligência de seu país, não era normal andar sem seus seguranças. Este cargo havia lhe  custado muito, entre outras coisas, sua intimidade. Habitualmente, seus seguranças, eram todos recrutados dentre membros de sua própria família e da família de sua mulher. Essa medida  tinha como objetivo principal reduzir ao máximo as possibilidades de uma traição. Entretanto, como provava de maneira pródiga a historia do oriente, o risco nunca desaparecia de todo.
 Talvez por esse motivo, Haddad  sentia-se agradavelmente relaxado em seus raros momentos de solidão, e este não era excessão, sob as estrelas do deserto.
 Sua vista alcançava bem além do que os farois de seu Nissan Patrol podiam iluminar.
 Era uma noite de Lua cheia, e o  ar estava carregado daquele encantamento e beleza que com certeza foi o responsável por inspirar os escritores a escreverem historias de magos, tapetes voadores, genios da lâmpada. Histórias suficientes para preencher mil e uma noites.
 Este era seu país, um lugar mágico no deserto, onde a imaginação compensava com vantagens uma dura realidade.
 Lá ia ele, um minúsculo e desprezível ponto que se movia no meio do nada, dono de seu nariz. Após um dia árduo  examinando as instalações secretas de uma fábrica de armas químicas, gozava daquele pequeno momento de solidão, que lhe custara muita discussão, pois tivera de convencer seus seguranças de que nada  de mal lhe poderia acontecer  nos aproximadamente cinquenta kilometros de deserto  que o separavam de uma região onde um micro clima mudava totalmente a paisagem para uma área alagada de plantações e pântanos.
 Sessenta quilômetros mais e alcançaria a segurança da estrada principal, que  o levaria,  trezentos e cinquenta kilometros adiante, até a porta de sua casa em Bagdá.      
 Estava tudo bem. Em caso de  qualquer problema, sempre existia o rádio de ondas curtas instalado no carro, com sinais codificados que lhe trariam ajuda quase imediata, sem alertar ninquém. O uso de telefones celulares estavam completamente fora de questão: Kammil sabia, (afinal de contas isto fazia parte de seu trabalho) que os americanos tinham tecnologia suficiente para interceptar qualquer ligação que lhes desse na telha, desde que esta fosse feita de um aparelho celular. O cartel de  Medellin pagara  um alto preço por desconhecer esse fato. Já o velho  rádio de ondas curtas, embora pudesse  parecer ultrapassado, estava equipado com um “scrambler” e um compressor. Bastava ligá-lo, para poder enviar sua mensagem em segurança: o aparelho se encarregava de substituir as palavras origininais  por outras através de um programa pré determinado. Assim, eliminando totalmente o sentido da frase que somente viria a ser inteligível quando decodificada com o uso da  matriz de posse de seus seguranças. Como se isto não bastasse a engenhoca comprimia a mensagem,  acelerando-a até transformar-la  em um simples ponto eletrônico, que facilmente seria confundido com estática por possíveis escutas clandestinas.
 Essa viagem solitária lhe dava  tempo para reorganizar seus pensamentos. O casamento com Yasmim obedecera a objetivos, muito mais que a impulsos românticos.   Constantemente vigiado pelos irmãos dela – seus seguranças -, não havia espaço para escapadas onde pudesse satisfazer seu desejo por aventuras sexuais. Os poucos momentos que tinha de privacidade eram tão apreciados como um bom vinho.
 Desviando a vista do areal batido de luar, Kammil olhou para para o marcador de kilometragem de seu Patrol, faltavam ainda trezentos e setenta e quatro kilometros para Bagdad, então com um gesto quase automático apertou o botão de seu relógio que servia para acender uma luzinha azul que os fabricantes haviam chamado “Indiglow” por seu brilho azulado, faltavam tres minutos para as tres horas da manhã. Essa pequena distração foi responsável por fazê-lo perder dois acontecimentos que iriam em poucos segundos mudar sua vida e possivelmente a de milhões de pessoas para sempre.
 O primeiro evento foi um pontinho luminoso que cruzou o céu, dirigindo-se para oeste. Poderia fácilmente ser confundido com uma estrela, não fosse sua velocidade e rumo constantes. Diferentemente de uma estrela aquele objeto fora criado por mãos humanas, e batizado de “olho diabólico” por sua capacidade de não perder nada do que se passasse por baixo de suas lentes, mesmo com o céu nublado. O segundo foi  um brilho esverdeado que por uma fração de segundo relampejou no deserto, poucos kilometros a sua frente.
 Minutos depois Kammil Haddad a viu.
 Ela estava ao lado da estrada, embora o vento e a areia não permitissem identificar claramente onde acabava o caminho e começava o deserto. Quando os faróis do veículo a revelaram, Kammil teve um estremecimento. Não deveria  haver ninguém por alí uma hora destas  muito menos a mulher dos seus sonhos mais secretos. Instintivamente, diminuiu a marcha desprezando todas as regras de segurança pelas quais seu comportamento se regia vinte e quatro horas por dia.
 Quanto mais se acercava, mais tinha a sensação de ter perdido o juízo. Aquilo não podia ser real. Aquela mulher, no meio da noite , no meio do nada, era a viva encarnação dos seus sonhos de amor e erotismo mais preciosamente escondidos no interior de sua alma muçulmana.
 Era como se a vida transcorresse em camara lenta. Parou o veículo ao lado dela desistindo de lutar contra a fantasia. Se aquilo fosse coisa do demônio, valia a pena arriscar a alma, pensou abrindo a porta do passageiro.
-  Sou Yamilla- ela disse. E sentou-se  ao lado dele, sem a humildade caracteristica das mulheres da região. Mudo,  Kammil que se esforçava para acreditar no que seus olhos viam, pedindo fervorosamente a Alá que aquela visão não fosse  um delírio provocado por alguma droga colocada em sua água ou comida, o que seria mais plausível do que o que estava acontecendo.
 Yamilla se vestia à moda ocidental, mas ao pronunciar seu nome deixou claro aos ouvidos de Kammil que o árabe era seu idioma natal.
 Como sem dar-se conta do improvável da situação Kammil encontrou sua voz e perguntou-lhe:
- Está indo para Bagdad?...e atônito ouviu dos lábios sorridentes daquela mulher que todos os seus sentidos gritavam tratando de avisar-lhe que não poderia ser real:
- Estou indo para onde você quiser me levar.
 Quando ela acomodou-se em sua SUV cruzando as pernas, Kammil sentiu uma vontade mal reprimida de cair de joelhos e beijar aqueles pequenos e macios pézinhos de pele branca como leite que estavam tão perto e ao mesmo tempo tão longe e entregar-se a luxúrias que em sua vida apenas havia tido coragem de ruminar  em segredo.
 Controlou-se -se e deu partida no veículo.
 A viagem até Bagdad transcorreu em silêncioso clima de sonho .
 Kammil sentia-se como se tivesse realmente sido drogado , porém não tinha medo ou receio de nada, sentia-se bem como nunca em sua vida, o único que desejava era que esta sensação não acabasse jamais. De quando em quando, olhava para o lado como que para certificar-se de que Yamilla seguia alí e ao vê-la era invadido por ondas de sentimentos que não entendia, mas que faziam reagir partes de seu corpo que, com seus cinquenta e dois anos já acreditava adormecidas para sempre há muito tempo.
 O pouco de bom senso que ainda lhe restava o levou a parar em uma casa nos subúrbios da cidade, onde, valendo-se de sua alta patente acordou  seus moradores e em nome do governo requisitou um traje típico muçulmano para cobrir aquela mulher.
 O amanhecer já se avisinhava, e Kammil sabia que precisava ocultar de olhares curiosos aquela beleza extasiante, que ele ansiava por abraçar e possuir .
 Dois dias depois deste incidente, inebriado por um suave aroma de flor de pêssegueiro e um gosto levemente salgado na ponta da língua lingua, Kammil, que nunca se importara muito com antropologia, entendia na prática que toda vida na Terra havia vindo do mar, tinha diante de seu nariz uma gruta húmida por onde nascia a vida, e essa ainda trazia em si o gosto de sal do mar primevo do qual emergiram todas as criaturas. Perdido nesses pensamentos, respirou fundo e mergulhou sua cabeça entre as brancas coxas de Yamilla, como se quisesse fazer o caminho de volta da criação. Esquecido de si  penetrou naquele oásis perfumado de pessegueiros, que já  a setenta e duas horas era só seu. A suave e quase imperceptível penugem dourada que cobria levemente as longas pernas da mulher, brilhava como pó de ouro cada vez que estas, com seus movimentos ritmados interrompiam uma réstia de sol matinal  que penetrava o vão da cortina do quarto, deixada involutariamente entreaberta.
 Kammil a instalara no hotel  Intercontinental de Bagdad, onde todos, desde os gerentes, até o mais reles empregado sabiam, que fazer perguntas inconvenientes  a Kammil  Haddad não era bom para os negócios, e quase sempre péssimo para a saúde.
 Era para alí que fugia sempre que de uma maneira ou de outra conseguia livrar-se de seus onipresentes seguranças.
 Por algum estranho motivo sempre que estava com ela esquecia-se de perguntar-lhe o que estava  fazendo quando a encontrara aquela hora da noite no meio do deserto. Também não lhe perguntava mais nada. Havia adquirido um ciúme mortal que o levaria a matar com requintes de sadismo a qualquer um que se atrevesse interpor-se  entre êle e sua mulher de sonho.
 Yamilla era a droga perfeita, Kammil nunca fora tão feliz, nem tão dependente.
 
VALLE DEL ELQUI ( CHILE ) (31 de julho de 1990) Terça-feira
 
  Já fazia uma hora que o Volvo 745 i branco deixara o asfalto e se internara pela estrada de terra,  sacudido no banco de trás, o passageiro de óculos escuros olhava a paisagem sem expressão no rosto. Pensava que a beleza agreste daquela faixa verde no meio do deserto que tinha frente a seus olhos não valia o desconforto desta viagem.
 Enquanto pensava o constante metralhar das pedras no chão do carro e o cheiro de poeira misturado com suor não o deixavam esquecer de sua condição humana, condição essa com a qual jamais se acostumara totalmente, mais por outro lado lhe dava prazeres de outra forma desconhecidos.
 Seus pensamentos foram interrompidos pelo pequeno motorista chinês que já o acompanhava a mais tempo do que podia conscientemente lembrar  quase gritando para ser ouvido por cima do barulho ensurdecedor das pedras batendo na lataria.
-Estamos chegando Senhor!
 Pelo vidro dianteiro podia se ver a uma certa distância o que passaria tranquilamente por uma colônia "hippie' dos anos sessenta. Aquele  era seu destino.
 O carro parou diante da construção principal e imediatamente desapareceu dentro de uma nuvem de poeira que teimava em seguir em frente apesar do carro já estar estacionado.
 O cavalheiro do banco de trás deu um tempo para que a poeira baixasse e saiu  do interior com ar condicionado para o que parecia um bafo do inferno. Deviam estar uns 40 graus ali fora. Era um homen alto, magro com um cavanhaque muito bem aparado cabelos  curtos começando a embranquecer,vestido com um terno branco impecável visivelmente de corte europeu, óculos escuros e tênis branco. Os tênis eram um prazer que se permitia, desde que haviam surgido, os  usava sempre que havia uma oportunidade.
 Andar com um tênis novo era quase como pisar em nuvens, e Êle imaginava saber exatamente como era essa sensação.
-Benvindo, parece que consequi tirá-lo do conforto outra vez!
 Quem lhe dirigiu esta saudação irônica de uma maneira que ninquém mais ousaria fazer, foi um homen loiro de cabelos compridos tão alto e magro quanto Êle.
 Olhando para ambos alguém poderia jurar que eram irmãos, mas não poderia estar mais enganado. O hippie tardio vestia apenas uma calça de couro.
 Seu peito desnudo era coberto apenas em parte por colares de contas multicoloridos desses que os indios fabricam e atribuem propriedades mágicas de proteção ao usuário.
- Por que aqui, neste fim de mundo? Perguntou o recém chegado, não se importando em deixar transparecer o seu mau humor.
-Por que não? Respondeu o outro demostrando pouco caso. Não sei se você que tudo deveria saber, sabe, mas Gabriela Mistral, poetisa e premio Nobel de literatura viveu pertinho daqui  e que eu  saiba jamais reclamou de sua sorte.
 -Vamos direto ao assunto. O homem de terno branco caminhou para a varanda  pondo-se ao abrigo do sol inclemente. Sentou-se numa cadeira de lona e serviu-se de água fresca  antes de prosseguir:
-Você sabe que  não tenho o mais mínimo interesse em seguir suando nem um segundo a mais do necessário neste deserto. Portanto vamos ao problema tão importante que não podia ser resolvido pelos meios convencionais e me obrigou a vê-lo novamente.
- Estilo é estilo, um outro teria vindo em um vulgar Mercedes 500, disse o loiro com uma ponta de sarcasmo e sem nenhuma pressa.
- Obrigado, respondeu o recém chegado mecanicamente, com o olhar perdido no branco topo das cordilheiras que cercavam o vale. 
-Tenho um"cachorro louco" completou secamente depois de um intervalo de silêncio bem estudado para dar o impacto desejado à revelação que acabava de fazer.
 O olhar do recém chegado não se alterou, e nada em seu aspecto denotou qualquer tipo de emoção, embora se alquém tivesse se fixado em suas pupilas teria notado como a menina dos olhos havia diminuido até se transformar em um pontinho preto, não maior que a cabeça de um alfinete.
 A aparente calma exterior escondia uma explosão interna de alguns kilotons de adrenalina.
- Ou deveria dizer "cadela louca", para ser mais exato, completou acercando-se do homen de branco e quase sussurando essa última frase em seu ouvido.
Êle estava se divertindo, isso era óbvio.                                                                                                                                                                
 O homen de branco virou lentamente a cabeça até fixar seus olhos nos olhos do outro com um olhar que poderia perfurar o aço mais resistente e disse pausadamente:
- E desde quando você precisa de mim para conter uma mulher, ainda que seja uma das suas?
- A imaginação não é mesmo um de seus fortes, não é verdade? Eu achei que você se interessasse em pelo menos perguntar o nome da fujona, mas acho que essa estória de onipotênte e onisciente lhe subiu à cabeça, depois de tantos séculos de crença até você pensa saber, ainda que não queira, todos os meandros da mente humana. Talvez tenha esquecido que entre nós essa babaquice não funciona, como dizem os nativos “entre gitanos no se le la suerte”, mas hoje me sinto, bem portanto vou economizar o suspense. Sabe quem está fora de meu contrôle e a solta nesse seu arremêdo de planeta?
 Um olhar sem absolutamente nenhuma emoção foi a única resposta. Diante da impasividade do interlocutor o loiro irritou-se e berrou.
-LAIL-AH! LAIL-AH!
 O nome ecoou entre gargalhadas no vale cercado por cordilheiras.
- A sua  LAIL-AH, a solta!- disse apontando teatralmente um dedo acusador ao recém chegado.
 De repente o rosto inexpressivo do homen de branco perdeu sua dureza e gotas de suor surgiram como por encanto em sua testa e têmporas rolando em seguida pelo pescoço indo empapar o colarinho de sua camisa Valentino.com uma mistura de pó e adrenalina.
- E onde ela está? - perguntou inocente, totalmente pêgo de surpresa.
 O pequeno motorista chinês que havia voltado para o carro mas mantivera os vidros abertos por curiosidade aguentando o calor e dispensando o conforto do ar condicionado virou o olhar para o outro lado para não ter de encarar o seu Senhor nesse estado, mas ouviu perfeitamente a resposta do outro homem que atingiu seu patrão como um "jab"no baço.-
-Sei lá onde ela está! O onisciente, como se diz por aí, é você, não é mesmo Rick?
 Por uma questão de praticidade e também porque os tempos  haviam mudado e hoje um individuo sem nome e documentos que comprovassem ser ele quem dizia ser não poder práticamente nem sair da própria cama , o homen de branco havia adotado já a várias décadas o nome de Rick Hammad. O primeiro nome em homenagem a "boggie"- Humprey Boggart - o qual conhecera pessoalmente e até convivera ocasionalmente depois de vê-lo em "Casablanca" pelo menos uma dezena de vezes encarnando Rick Blaine .
 Hammad talvez para lembrar uma origem lendária ou por achar que teria algo a ver com Casablanca , afinal como se dizia "inescrutáveis eram os desígnios do Senhor" e para quem já havia atendido até pelo nome impronunciável de IHVH, o atual não obstante ser pouco pomposo para designá-lo estava bom demais.
 Rick ainda não se havia recuperado do duro golpe acertado por seu, por assim dizer anfitrião, e sua mente vagava milênios atrás em um tempo desconhecido dos mortais, quando foi novamente chamado à dura realidade pela voz agora tranqüila e pausada de Pablo. Este era o nome adotado pelo seu interlocutor nessa ocasião visando talvez dar um  tom local ao personagem que havia resolvido interpretar sem importar-se a mínima para o fato deste ter sido o nome de um dos princípais apóstolos de Cristo, afinal isto não era seu problema, êle achava que o nome lhe caia bem, e isso era o suficiente.
- Desculpe a brincadeira disse, mas você sabe, perco o amigo mas, não perco a piada. E depois, a última coisa a se perder é o bom humor, não acha?
 Não houve resposta.
-Quando foi?
-Dois dias atrás, até onde pudemos verificar por volta das onze da noite  horário de Greenwich, houve um forte distúrbio magnético, o que indicava que alquém ou alguma coisa havia consequido abrir um dos portais lacrados.
 Quando fomos investigar... Lail-ah já era.
 Rick levantou-se.
 Não houve despedida, pelo menos nada que o pequeno chofer chinês pudesse haver identificado como tal, somente um silêncio durante o qual se podia ouvir o vento correndo por entre as cordilheira que muravam o vale pelos dois lados. Ficaram se olhando fixamente por alguns segundos sem que Pablo tirasse dos lábios o sorrisso zombeteiro que estampara no seu rosto desde que revelara ao outro a identidade da fugitiva. Então sem dizer uma palavra Rick entrou no carro.
 Yu- Ling,- este era o nome do pequeno motorista chines - sem virar para trás evitando ver a dor que se estampava no semblante de seu amigo e senhor perguntou:
-Para onde Senhor?
 A voz que respondeu parecia vir de um poço profundo e era fria como deveria ser a água que porventura existisse no fundo desse.
- Santiago.
 O Volvo arrancou suavemente com seus vidros fechados. Dentro, o único ruido que se ouvia era o suave zumbido do ar condicionado ligado no máximo, e dos eternos pedregulhos que metralhavam o chassis atirados contra êle pelo rodar dos pneus.
 Pablo da varanda contemplava aquela máquina magnifica que se perdia no meio de uma inevitável nuvem de poeira rumo a La Serena.
 Dentro dela ia seu contra-parte, seu inimigo número um, segundo toda literatura  que havia a respeito,  apesar disso não pode deixar de sentir certa pena do homem, por um momento deixou de representar seu papel e o sorriso desapareceu de seu rosto.
 Se alguem podia evitar a catástrofe  que estava por vir, esse alguém só poderia ser Êle, e iria precisar de toda ajuda com que pudesse contar, não importando de onde viesse. Ao dirigir-se para a porta da casa percebeu um índio Mapuche que o olhava a pouca distância, como que tratando de entender o que acontecera, uma vez que todo diálogo entre os dois se havia produzido em hebraico, e foi nesta mesma lingua que Pablo gritou ao homem.
- Você poderia crer que esse homem me odeia só porque sou mais bonito que êle? E entrou na casa.
 Cerca de uma hora depois o oceano Pacífico estendia-se gelado frente aos olhos dos dois ocupantes do Volvo Branco que se aproximava de La Serena, a partir de agora desceriam para o sul em direção a Santiago deixando o oceano à sua direita por algumas dezenas de kilometros e depois começando a afastar -se dele numa leve diagonal para a esquerda que os levavaria a Ovalle, depois de volta ao mar em Los Vilos e dai para frente cada vez mais distantes do mar e mais proximos à capital do Chile. Este era o caminho mais curto, desprezando a vista maravilhosa com direito a pinguins e leões marinhos do caminho turístico que segue beira mar até Viña  Del Mar e Val Paraiso, para depois continuar em perpendicular até Santiago aumentando assim a cansativa viagem em pelo menos cem kilometros.
 Até onde Êle sabia Lail-Ah estava solta há dois dias portanto não havia tempo a perder com as maravilhas que êle próprio havia criado, mas sim dedicar todo seu tempo a consertar um erro que havia cometido ao tentar criar uma companheira para sí próprio que se tornara mortalmente perfeita.
 
 
 
 
 
Leia aqui o primeiro capitulo de Vidas " Diversão Mortal"
Segundo livro da trilogia de Rick Hammad
 
 
 

 
CAPÍTULO 1
  
A FELICIDADE NÃO CAI DO CÉU
 
 
O pequeno monomotor Piper Saratoga II TC fazia um vôo tranqüilo e seu piloto já começava o procedimento de aproximação para aterrissar no aeroporto O’Hare, em Chicago. O céu azul de um meio dia ensolarado, sem rajadas de vento vindas do lago ¾ normais nesta época do ano ¾ antecipava um fim de férias sem maiores contratempos.
No comando de seu brinquedo de mais de trezentos e cinqüenta mil dólares ia James Brady, trinta e dois anos, engenheiro da NASA. A seu lado, sua jovem mulher Anne, no banco de trás suas duas filhas, Tammy e Carolyn, com doze e dez anos, respectivamente. O quinto e o sextto assentos na terceia fileira estavam atopetados de bagagens que não haviam cabido no compartimento a elas destinado
As duas meninas, com suas vozes estridentes, tentavam sobrepujar o barulho do motor cantando Frère Jacques, enquanto Anne tentava dar um jeito nas quinquilharias que trazia em sua bolsa, lembranças das férias nos Grandes Lagos, quando de repente, algo enorme e preto adentrou a cabina, arrebentando o plexiglass que os separava do frio vazio de fora.
O ruído que se fez de fundo musical à tragédia era ensurdecedor.
Ao inclinar o avião e fazer uma curva em direção ao funil de aproximação, para a tomada da cabeceira da pista em um procedimento de rotina, James havia se chocado quase de frente com um urubu, vindo de algum lugar debaixo deles.  
      Por causa desse “quase”, ainda teria a seu favor a integridade das pás da hélice.
A vítima emplumada entrou em pedaços mal-cheirosos cabina adentrou, um deles grande o suficiente para colocar James a nocaute.
O avião despencou como uma pedra por dois mil metros. Quando apenas uns quinhentos os separavam do solo e da morte certa, ele acordou em meio aos gritos de sua mulher e das meninas.
O vento arrancava lágrimas dos olhos que, à custa de muito esforço, conseguia manter semi-abertos. Lágrimas misturadas com sangue escorriam para trás por suas têmporas, dando a seu rosto a aparência de uma máscara de Kabuki.
Para aumentar ainda mais o desconforto, as pontas dos fios de cabelo, que haviam ficado sem corte durante todas as férias, açoitadas pelo vento da hélice, somado à velocidade da queda, chicoteavam furiosamente seu rosto, fazendo com que sentisse como se uma infinidade de alfinetes lhe picasse a pele.
Sem mesmo ter certeza do que estava fazendo, guiado apenas por um reflexo condicionado, puxou o manche com toda força para junto de si.
Durante o que pareceram ser intermináveis segundos, este não se moveu. Sentia em seus dedos crispados a força do vento que parecia querer arrancar os flaps de seu mecanismo na asa e destroçar o que restava do pequeno avião.
O sangue que lhe escorria pela testa ardia em seus olhos e começava a cegá-lo. Tudo parecia ocorrer em câmera lenta.
De repente, o manche começou a ceder e ele conseguiu trazê-lo aos poucos até perto de seu peito. O movimento veio acompanhado de uma sensação de esmagamento. Sentiu seu corpo achatar-se contra o fundo do assento e uma forte náusea. Seu cérebro conhecia esta sensação.
Ele estava conseguindo tirar o avião de seu mergulho mortal. Tirou uma mão do manche para limpar o sangue dos olhos e tudo escureceu.
Os gritos agoniados de sua família começaram a distanciar-se, dando lugar ao nada, silencioso e perene. Pelo menos, no que dizia respeito ao que, a partir deste momento de sua vida, poderia ser explicado sem discussão.
Houve uma explosão que pareceu muito distante.
Haviam morrido todos os ocupantes do pequeno avião. Ou pelo menos assim pensaram os paramédicos que primeiro chegaram ao local do acidente.
James, na verdade, não conseguira tirar o aparelho de seu mergulho a tempo, já estava baixo demais e terminou espatifando-se em uma caixa d’água de uma pequena granja, apenas a uns poucos quilômetros do aeroporto. 
Todos os corpos foram deslocados para o Hospital Central de Chicago e de lá para a morgue, aguardando identificação. Foi aí que um enfermeiro residente, não sem antes levar um tremendo susto, percebeu que uma das vítimas ainda respirava.
 
 
Leia aqui o primeiro capítulo de Deus Joga Dados:
Último livro da trilogia  de Rick Hammad
 
Capitulo1
 
O INÍCIO DO FIM
 
 
Pyongyang – Segunda-feira 10 de setembro de 2001
20:30 h.
 
 
Kim Hoon estava nu da cintura para cima quando seus olhos encontraram a si próprio no grande espelho de seu quarto de vestir. O que viu não o decepcionou.
A mistura dos genes de sua mãe coreana, com os de seu pai, um diplomata de carreira francês, havia resultado em um homem alto moreno com olhos felinos de um azul transparente que lembrava praias tropicais.
Os músculos perfeitos e a pele cor de bronze eram resultado de seu trabalho.
Ele era o mais novo general do Exército Regular da Coreia do Norte.
Seus traços, estranhos para os de sua raça materna, eram extremamente  atraentes quando vistos por olhos ocidentais.
Esse era um fato do qual Kim Hoon tinha total ciência e que, de forma até natural, transformara em um recurso que manejava com graça e desenvoltura para alcançar seus objetivos, fossem  eles no cumprimento dos deveres de seu ofício, ou simplesmente para massagear seu ego de macho oriental.
Embora o número de mulheres ocidentais em Pyongyang fosse ridículo para uma cidade do seu tamanho, a maioria delas que merecesse uma segunda olhada em qualquer capital do mundo já havia passado pelo menos uma vez por sua cama.
As recordistas na sua maioria eram mulheres de diplomatas russos, que depois da era Gorbachev haviam melhorado muito, tanto no quesito de idade como no de sofisticação. Os comunistas haviam descoberto que poder não combina com mulher feia e partido para uma onda irreprimível de divórcios onde trocavam mulheres que lembravam as comedoras de batatas de Van Gogh por modelos e prostitutas profissionais que na maioria das vezes não tinham a idade de suas filhas mais velhas, fato esse, que Kim Hoon agradeceria diariamente a seus deuses se porventura o estado o permitisse tê-los.
Algo em sua descendência o fazia imune às mulheres locais que não o atraíam, da mesma forma que não eram atraídas por ele. Talvez porque o lembrassem de sua mãe a quem ele respeitava com o lado oriental de sua personalidade e com tudo que isso implicava. Ele a queria muito, mas era prudente manter sempre certa distância dela.
Quando seu pai morreu, tinha quinze anos de idade. Eram os anos setenta, todo mundo enlouqueceu, menos Kim Hoon Carpentier. Foi quando com sua mãe voltou para Kae Song a cidade natal dela, que agora por causa de um tratado e alguns poucos quilômetros estava situada na Coréia errada; a do Norte
Seu avô materno era general do recém formado Exercito Regular de seu novo país. O homem tinha uma personalidade forte e em pouco tempo tinha total domínio sobre o neto que via pela primeira vez. Sua mãe, uma pacifista, tentou a todo custo evitar o que se mostrou inevitável. Para não perdê-lo acabou aceitando as exigências do pai que primeiro eliminou o Carpentier do nome do neto, depois o encaminhou para a carreira militar. Desta maneira Kim Hoon  foi preservado da música Disco e das calças boca de sino, fato que tanto ele quanto ela concordavam não lamentar.
Ela suportou tudo sem reclamar e sem perder o controle sobre os hábitos do filho adolescente que trazia com rédeas curtas.
- A velha não era fácil - pensou consigo mesmo - mas acho que se soubesse o que estou prestes a fazer para tornar esse mundo mais justo ficaria feliz com minha carreira.
A mãe seguia vivendo em Kae Song. Pessoas de idade como ela eram “encorajadas” a sair de Pyongyang, cidade onde até bem pouco tempo eram proibidos idosos, pedintes ou mulheres grávidas. O cargo ocupado por Kim Hoon com certa facilidade faria com que os responsáveis por esses cuidados para com o visual da cidade fizessem olhar de mercador para a presença dela em suas ruas e praças.
O problema era ela. Jamais aceitaria sair do velho quarteirão, espremido com seus velhos pagodes entre a estrada principal e o rio, como um bastião inexpugnável resistindo bravamente ao avanço das largas avenidas da moderna cidade de aproximadamente duzentos mil habitantes.
Para ela Kim Jong-Il, conhecido como “o amado líder” não passava de um débil mental. Imitação burlesca de Kim Il-Sung, outro canalha que deveria estar queimando no inferno. Opinião que ele compartilhava secretamente – o que lhe mostrava que a lavagem cerebral praticada pelo avo não fora nem de longe um sucesso -, mas se não fossem eles com seu poder absoluto, de que outra maneira alguém como Kim Hoon  poderia ter ao seu alcance os meios para botar o mundo de joelhos e castigá-lo pela arrogância com que os países ricos se impunham  aos mais pobres.
 - Globalização uma porra! – pensou em voz alta.
Aquela merda de ditadura iria finalmente servir para algo. E o melhor é que o algoz de plantão nem suspeitava do que estava por vir.      
Vestiu a camisa e pôs uma gravata sóbria. Anelice Binot, repórter do Paris Match com certeza apreciaria sua gentileza de comparecer ao jantar que haviam combinado trajando roupas civis. Tentou descrevê-la mentalmente, com base nos péssimos vídeos de segurança do aeroporto que havia visto rapidamente, e a imagem de Catharine Deneuve no filme “Indochina” lhe veio à cabeça.
Talvez um pouco mais nova que a atriz, mas com aquele charme e encanto atordoante das mulheres que a maioria dos mortais só conhece em sonhos.
Ela havia chegado à Pyongyang na sexta-feira à tarde, apenas três dias atrás.
Embora fosse uma pessoa esperada e com ligações importantes passara o fim de semana e até onde fora informado todo o presente dia em instalações do estado tentando cumprir com as demandas infindáveis da burocracia local. Durante a semana o estado era terrível, no sábado e domingo qualquer pessoa que precisasse de seus serviços preferiria dar um passeio a pé no sétimo círculo do inferno. Até porque segundo o estado ele não existia. A idéia desenhou um sorriso no rosto de Kim Hoon .
O jantar era para buscar uma solução para os problemas da moça.
Sua empresa havia feito os contatos necessários através da embaixada para conseguir algumas poucas facilidades, indispensáveis em se tratando da Coréia do Norte, para que ela pudesse realizar as fotos. A reportagem usaria como pano de fundo algumas paisagens da cidade e dos arredores para as roupas de inspiração asiática desenhadas por alguma bicha européia de cujo nome ele não recordava. Como sempre após chegarem deram-se conta que ninguém sabia de nada e as autorizações dificilmente sairiam a tempo sem a interferência de alguma autoridade local. Aí entrava Kim Hoon.
Com ela estavam cinco modelos francesas, um fotógrafo chileno, que parecia estar comendo todas elas, um maquiador francês, gay que parecia apaixonado pelo ajudante do fotógrafo, um brasileiro preto de uns vinte e cinco anos. Por último uma senhora de uns cinqüenta anos, a costureira. Estavam todos hospedados no Hotel Ko Ryo, uma imponente construção de 45 andares que possibilitava uma vista de toda a cidade desde a maioria de seus quinhentos quartos.
Como mais da metade deles – todos nos andares mais baixos - nunca haviam sido totalmente habilitados a possibilidade de que qualquer hospede ficasse sem uma vista panorâmica deslumbrante era totalmente descartável, mas o turista não precisava saber disso e pagava mais caro por esse privilégio obrigatório.
Ficara de encontrá-la às 21h, e seria melhor que jantassem no restaurante giratório no topo do hotel, - o local sempre impressionava os visitantes que se esqueciam um pouco de onde estavam e da cozinha que apesar de ser de qualidade para os padrões asiáticos, estava longe de qualquer bom restaurante do ocidente e só servia pratos ocidentais – decisão de algum gênio do marketing  do hotel. Qualquer opção do cardápio local não somente encheria os olhos de sua companheira esta noite, como não lhe daria a oportunidade de compará-la com qualquer outra refeição que com toda certeza degustara em algum lugar melhor antes, mas para que isso tivesse sido possível o hotel teria que ser avisado com pelo menos três dias de antecipação, tempo que ele não tivera. Entre outras facilidades estava a de que em havendo a possibilidade de passar pelo quarto dela o faria sem ter que expor-se na portaria, o que era sempre comprometedor mesmo sendo ele quem era. Por outro lado, em toda Pyongyang não encontrariam nada melhor em uma segunda feira. O país já há muito tempo estava sofrendo de falta de alimentos. O que havia de melhor estava no hotel para os escassos turistas e eventuais homens de negócio provenientes em sua grande maioria da Europa. É claro que o objetivo do governo não era fazer parecer aos de fora que tudo andava bem na República Democrática do Povo da Coreia. Afinal de contas qualquer pessoa medianamente esclarecida sabia da merda que era atualmente seu país. A idéia era dar algum conforto a eles para que eventualmente voltassem. Dólares eram sempre bem-vindos. Fora do hotel o melhor que se poderia conseguir seria comer um pato na TongIr (rua da Unificação) com uma Pong Hak a única cerveja disponível. Já no Ko Ryo com um pouco de sorte podia-se até conseguir uma Budwaiser.
O fato de falar perfeitamente francês o indicava para uma série de serviços de inteligência para os quais a língua e o requinte de um bem-nascido eram necessários para compor um personagem insuspeito das boas intenções da Coreia do Norte com o resto do mundo.
Os integrantes do eclético grupo de hóspedes haviam sido investigados um por um pelo serviço secreto e nada que comprometesse o passado de qualquer um deles mais do que uma infração de trânsito havia surgido, na verdade eram tão reais e boa gente que só poderiam ser espiões.
E que importância esse fato teria na quarta-feira? “Nenhuma”, pensou.
Quarta-feira graças a ele o mundo como conhecemos não existiria mais, a sua pátria não seria mais uma nação isolada do resto do mundo por seu atraso tecnológico com a economia afundando a uma taxa de 5% a 6% ao ano. Passaria a ser “apenas mais uma” entre o resto das nações do planeta, todas atiradas inesperadamente ao caos. Não seria exatamente o fim do mundo, era mais um novo começo, agora com chances iguais para todos. Uma tarefa digna de um deus, mas deuses eram proibidos nesta terra onde as igrejas e templos somente serviam como atrações turísticas e o Confucionismo era a ordem do dia há mais tempo do que ele podia lembrar, as autoridades talvez tivessem razão, uma vez que alguém como ele estava para fazer o que ele estava, talvez até fosse uma nova espécie de deus, um deus que no momento tinha fome e se tudo desse certo pretendia comer a Catherine Deneuve antes do fim do mundo marcado para dali a dois dias.