NADA PARA
ACRESCENTAR
NO MOMENTO
Por: H. James
Kutscka
Sentado
frente à tela iluminada do computador com o olhar perdido na folha branca
emoldurada em azul celeste repleta de instruções do Word, apalpava ideias com
mãos imateriais como quem escolhe no caixote do supermercado uma fruta no ponto
para o consumo imediato.
Passado
algum tempo nesse exercício espiritual encontrou uma que parecia apetitosa.
Ironicamente;
“o sentido da vida é a morte”.
Tendo
colhido essa ideia, divagado algum tempo sobre suas implicações e certo de
haver entendido o conceito, se deu conta de que cada minuto de vida
contemplando aquela tela vazia era um minuto irremediavelmente perdido. Uma
vitória do tempo sobre a perseverança. Da entropia sobre o instinto de
preservação.
Sendo assim
sem perder tempo suicidou-se mentalmente de inúmeras maneiras.
Primeiro das
formas que em teoria seriam indolores, como overdose
de calmantes. Entusiasmado com o resultado seguiu em uma escalada para o Gran Guiñol, subitamente percebeu que a
espetaculosidade do processo seria elemento importante para a catarse. Tomou estricnina e morreu se contorcendo e
espumando pela boca ( havia visto espiões se suicidando desta forma em filmes
para evitar a tortura de um interrogatório) foi um suicídio onde não faltou
referências.
Afinal nada
mais aborrecido do que um suicídio levado a cabo com o uso de calmantes. Coisa
de gay.
Cortou os
pulsos em uma banheira de água quente e sangrou até a morte, sufocou-se com um
saco plástico na cabeça enquanto praticava o
ato solitário, no mais puro estilo inglês.
Saltou de um
prédio. A última coisa que passou por sua cabeça foi a visão de uma formiga
carregando uma folhinha quando estava a milionésimos de segundos de espatifar
sua cabeça na calçada esburacada há mais de 200 quilômetros por hora.
Para o “gran-finale”
deixou o Hara Kiri, morreu de joelhos contemplando as próprias tripas
emporcalhando o “tatami” à sua frente.
Quando
finalmente o coração parou, desabou de cara em suas entranhas em um espetáculo
de absoluto mau gosto.
O processo
de múltiplos suicídios não durou mais de quarenta minutos.
Fato
consumado e com a certeza de ter esgotado o potencial daquela ideia, deu-se uma
nova vida
Por trás da
tela branca que continuava a dominar seu campo de visão estavam inúmeras histórias
esperando para serem escritas.
Agora era só
uma questão de escolher as teclas certas e “done”.
Voltou então
sem pressa a apalpar ideias como se estivesse escolhendo uma fruta no ponto
para ser degustada em um caixote de supermercado.
22/02/13
Nenhum comentário:
Postar um comentário