sábado, 20 de março de 2021

 







Um pouco de nostalgia para variar.

Por H. James Kutscka

 

Na noite da última sexta feira, no silêncio do meu escritório quando me preparava para escrever este artigo, ouvi aquele som quase imperceptível do celular que avisa que chegou alguma mensagem.

Em lugar de me concentrar no trabalho fui ver do que se tratava.

Era um publicitário chileno lembrando os lugares da moda dos anos oitenta, onde gente da área de comunicação se encontrava para beber, comer e trocar ideias em uma época em que ser publicitário ainda significava algo especial.

Não resisti e tive de responder lembrando lugares e citando vários colegas da época.

Enquanto o fazia conectei o meu “pen drive” com mais de mil músicas que fui selecionando ao longo dos anos e que facilmente poderia chamar de trilha sonora de minha vida e liguei o aparelho, (coisa que nunca faço quando estou escrevendo) os Bee Gees vindo sem escalas dos anos sessenta, invadiram o ambiente com”I started the joke” .

Esse foi o pingo d´água para transbordar o copo e me fazer dar um tempo para a política e falar de algumas coisas que nos dão saudade (palavra que só existe em português).

Essa música foi tema da primeira grande telenovela da tv brasileira: Beto Rockfeller.

No elenco, Luís Gustavo era Beto, Plínio Marcos (isso mesmo, o próprio: autor de Dois Perdidos Numa Noite Suja e Navalha na Carne) era Vitório o amigo mecânico de Beto que emprestava carros chiques da oficina no final de semana para Beto viver seu golpe de play boy. Bete Mendes era Renata, paixão de Beto e de milhares de outros jovens da época inclusive esse que vos escreve semanalmente.

Nos anos setenta meu amigo Olivier Perroy levou Beto para a tela grande, mas a mágica já havia passado, ele nascera e vivera para a telinha de uma televisão com válvulas em branco e preto.

Uma época em que televisão tinha cheiro.

Quando ao acabar a programação lá pela meia noite ela  era desligada, o calor das válvulas e do tubo de imagem tendo aquecido a caixa que embalava a magia, deixavam no ambiente  um cheiro agradável de madeira quente encerada.

Como na minha vida nada vem no singular, a seguinte música da ”play list“  me levou a uma discoteca em Amsterdã  dançando num final de noite ao som de Barry White cantando ao vivo (como eu disse antes eram tempos em que publicitários eram pessoas especiais).

Desliguei então o reprodutor sonoro e lembrei do filme Blade Runner e do inesquecível monólogo do “replicante” interpretado por Rutger Hauer: Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque em chamas ao largo de Órion. Vi raios -c brilharem na escuridão próximos ao portal de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.

Philip K. Dick o autor do livro “Do Androids Dream of Electric Sheeps?” (Os Androids Sonham com Ovelhas Elétricas?) que era um mestre, se referia ao habito de humanos com insônia contarem carneirinhos.  A morte é o sono final.

Sem sonhos.

Como o replicante do filme, também vi e vivi coisas incríveis e não quero que se percam, pelo menos não enquanto estiver por aqui e puder incomodar os poderosos.

Então voltando ao que interessa para o momento, sem perder a linha de pensamento que nos trouxe até aqui, vamos falar do cara que começou a piada (started the joke) com uma camiseta escrita “Bolsodoria”, e que está descobrindo que a piada era ele.

Enquanto nós rimos ele chora fechado em sua casa, rodeado por dezenas de viaturas da PM e outros órgãos de segurança, temendo enfrentar a quem tarde demais descobriu ser seu verdadeiro patrão: o povo!

O mesmo gênio que acreditou na mentira e inventou a “ciência militante”.

O gestor chinês que um dia se disse publicitário e sonha transformar o Brasil em um quintal da China.

Já que importamos tanta porcaria dessa ditadura, vamos importar também para esse artigo, um ditado popular ancestral que a diferença do resto das bugigangas pode ser útil para definir as atitudes do atual governador de São Paulo.

As medidas tomadas para enfrentar os atuais problemas da saúde seriam comparadas a “xiàzài kùzi fàngpi (baixar a calça para peidar)

Já inserir menção à calça apertada no contexto seria covardia.

Dado o recado de maneira mais suave essa semana, liguei novamente o som e para minha surpresa está tocando Help dos Beatles.

É de novo 1965, faz um ano que o Brasil foi salvo do comunismo, bons tempos!   

A próxima música sei que será Monday Monday, então é melhor parar por aqui.

 

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