sábado, 21 de agosto de 2021

 







A incrível história de um país onde a vergonha foi criminalizada.

Por:  H. James Kutscka

 

Era uma vez um país...

Aprendemos desde crianças que depois dessa introdução tudo se torna possível; no mundo da fantasia se abrem as portas para todo tipo de “nonsense”, indetectável para mentes infantis.

Mundos onde lobos comem vovozinhas, bruxas distribuem maçãs batizadas com um “boa noite Cinderela” para donzelas, enquanto Cinderelas calçam improváveis sapatinhos de cristal e sapos beijados por princesas simplorias se transformam em belos príncipes.

Nesses mundos os animais falam, o que não difere muito do país ao qual nos referimos (plural majestático porque não pretendo levar a culpa sozinho) no título desse artigo.

No tal país, acreditem, a vergonha foi criminalizada.

Não somente ela, a verdade também.

Tudo começou em um avião de carreira onde se encontravam um ministro da Corte Superior desse país e um jovem advogado, Cristiano Caiado de Acioli, que ao ver sua “iluminescência“ ali sentado, indefeso  como o resto dos passageiros, não conteve sua indignação e aproveitando a ocasião, externou em voz alta sua baixa opinião sobre os integrantes da Suprema Corte do país encantado.

- Tenho vergonha de vocês, disse em alto e bom som para ser ouvido em toda cabine, enquanto gravava com seu aparelho celular a façanha.

Naquele mundo de fantasia, transcorria o dia 4 de dezembro do ano 2018 de Nosso Senhor Jesus Cristo, o dia em que a vergonha foi criminalizada.

O “iluministro” em questão, como o avião ainda não levantara voo, não levou o desaforo na bagagem de mão para sua casa, como no velho oeste sacou rapidamente seu celular e pediu para a Polícia Federal mandar seus agentes para o aeroporto com o objetivo de prender o audacioso e imprudente advogado que ousara envergonhar-se ostensivamente dos deuses da Suprema Corte, interpretes oficiais e indiscutíveis da Constituição daquele país das maravilhas.

O vídeo do jovem dando sua opinião assim como o de sua prisão, se tornaram virais nas redes sociais, inaugurando assim oficialmente a era dos crimes de opinião.

Pronto. Sentir vergonha de políticos ou instituições estava vedado ao cidadão comum, que desse momento em diante podia pensar, mas não expressar seus pensamentos, enquanto os deuses podiam cada dia mais interpretar as leis de acordo com suas conveniências.

Assim foi que libertaram um ex-presidente cachaceiro para concorrer nas próximas eleições, mesmo sabendo que o dito cujo é um cadáver político, mas apostando no “lobo mau” para viabilizar uma terceira via, através da qual voltariam ao paraíso com um personagem esquecido, um Nelson com sobrenome de famoso compositor brasileiro que já foi da turma. 

Enquanto isso, a desconstrução dos valores e dos direitos individuais segue acelerada.

Um deputado mesmo com imunidade parlamentar continua preso por crime de opinião, apesar de haver pago uma fiança tão ilegal quanto sua prisão, um jornalista que foi preso e torturado a ponto de ficar paraplégico, está relatando os maus tratos sofridos, na Convenção dos Direitos Humanos em San José na Costa Rica.

No momento mesmo em que escrevo esse artigo, um mandato de busca e apreensão está sendo cumprido nas casas e escritórios de outro deputado e de um cantor sertanejo, que tiveram a audácia de expressar o que vai na garganta da maioria dos cidadãos de bem do país dos sonhos da esquerda.  

Uma CPI presidida por sete marginais segue na perseguição do presidente eleito pelo povo e dos médicos, que poderiam ter evitado centenas de milhares de mortes causadas pelo “flango flito” se o tratamento precoce não tivesse sido demonizado por governadores e prefeitos apadrinhados com os “deuses”.

A verdade está celeremente indo pelo mesmo caminho da vergonha, quando os poucos repórteres que ainda resistem, começam a ser calados nas plataformas sociais.

Passa a existir somente a verdade oficial que é poética, fantasiosa e teoricamente defensora de uma democracia de mentirinha como convém aos contos infantis.

O povo ouvindo os discursos aveludados do presidente do TSE, talvez comece a pensar que Platão estivesse certo quando dizia: “Há algo de desonesto na poesia, os poetas deveriam ser banidos”.

Todo pensamento que não estiver de acordo com a narrativa oficial dos últimos 35 anos, será considerado pensamento antidemocrático e deverá ser criminalizado e calado nesse país mágico, onde cartolas são tiradas de traseiros de coelhos.                                                                                                                                            

O que me remete a um fato ocorrido em Moscou em 1936 quando um certo Andrei Zhdanov líder da Academia de Cultura, Teologia e Ideologia da União Soviética, preocupado com o rumo liberal que a música estava tomando, chamou para uma reunião uma série de músicos medíocres e de maneira imperativa “explicou-lhes” que o que mais importa em uma composição musical  é que essa possa ser cantarolada com a boca fechada e terminou declarando que o que faziam  Prokofiev,  Kachaturian e Shostakovich não passava de cacofonia alienante para delírio de sua plateia adestrada.

Essa espantosa descoberta comunista parece estar em vigor até hoje em nosso país.

Podemos pensar de tudo, desde que fiquemos com a boca fechada.

Já liberdade, é uma outra história, que fica para uma outra vez!

 

 

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