A incrível história de um país onde a vergonha
foi criminalizada.
Por: H. James Kutscka
Era uma vez um país...
Aprendemos desde crianças que depois dessa introdução tudo
se torna possível; no mundo da fantasia se abrem as portas para todo tipo de
“nonsense”, indetectável para mentes infantis.
Mundos onde lobos comem vovozinhas, bruxas distribuem maçãs
batizadas com um “boa noite Cinderela” para donzelas, enquanto Cinderelas
calçam improváveis sapatinhos de cristal e sapos beijados por princesas simplorias
se transformam em belos príncipes.
Nesses mundos os animais falam, o que não difere muito do
país ao qual nos referimos (plural majestático porque não pretendo levar a
culpa sozinho) no título desse artigo.
No tal país, acreditem, a vergonha foi criminalizada.
Não somente ela, a verdade também.
Tudo começou em um avião de carreira onde se encontravam um
ministro da Corte Superior desse país e um jovem advogado, Cristiano Caiado de
Acioli, que ao ver sua “iluminescência“ ali sentado, indefeso como o resto dos passageiros, não conteve sua
indignação e aproveitando a ocasião, externou em voz alta sua baixa opinião
sobre os integrantes da Suprema Corte do país encantado.
- Tenho vergonha de vocês, disse em alto e bom som para ser
ouvido em toda cabine, enquanto gravava com seu aparelho celular a façanha.
Naquele mundo de fantasia, transcorria o dia 4 de dezembro
do ano 2018 de Nosso Senhor Jesus Cristo, o dia em que a vergonha foi
criminalizada.
O “iluministro” em questão, como o avião ainda não
levantara voo, não levou o desaforo na bagagem de mão para sua casa, como no
velho oeste sacou rapidamente seu celular e pediu para a Polícia Federal mandar
seus agentes para o aeroporto com o objetivo de prender o audacioso e
imprudente advogado que ousara envergonhar-se ostensivamente dos deuses da
Suprema Corte, interpretes oficiais e indiscutíveis da Constituição daquele
país das maravilhas.
O vídeo do jovem dando sua opinião assim como o de sua prisão,
se tornaram virais nas redes sociais, inaugurando assim oficialmente a era dos
crimes de opinião.
Pronto. Sentir vergonha de políticos ou instituições estava
vedado ao cidadão comum, que desse momento em diante podia pensar, mas não
expressar seus pensamentos, enquanto os deuses podiam cada dia mais interpretar
as leis de acordo com suas conveniências.
Assim foi que libertaram um ex-presidente cachaceiro para
concorrer nas próximas eleições, mesmo sabendo que o dito cujo é um cadáver
político, mas apostando no “lobo mau” para viabilizar uma terceira via, através
da qual voltariam ao paraíso com um personagem esquecido, um Nelson com
sobrenome de famoso compositor brasileiro que já foi da turma.
Enquanto isso, a desconstrução dos valores e dos direitos
individuais segue acelerada.
Um deputado mesmo com imunidade parlamentar continua preso
por crime de opinião, apesar de haver pago uma fiança tão ilegal quanto sua
prisão, um jornalista que foi preso e torturado a ponto de ficar paraplégico, está
relatando os maus tratos sofridos, na Convenção dos Direitos Humanos em San
José na Costa Rica.
No momento mesmo em que escrevo esse artigo, um mandato de
busca e apreensão está sendo cumprido nas casas e escritórios de outro deputado
e de um cantor sertanejo, que tiveram a audácia de expressar o que vai na
garganta da maioria dos cidadãos de bem do país dos sonhos da esquerda.
Uma CPI presidida por sete marginais segue na perseguição do
presidente eleito pelo povo e dos médicos, que poderiam ter evitado centenas de
milhares de mortes causadas pelo “flango flito” se o tratamento precoce não
tivesse sido demonizado por governadores e prefeitos apadrinhados com os
“deuses”.
A verdade está celeremente indo pelo mesmo caminho da
vergonha, quando os poucos repórteres que ainda resistem, começam a ser calados
nas plataformas sociais.
Passa a existir somente a verdade oficial que é poética,
fantasiosa e teoricamente defensora de uma democracia de mentirinha como convém
aos contos infantis.
O povo ouvindo os discursos aveludados do presidente do TSE,
talvez comece a pensar que Platão estivesse certo quando dizia: “Há algo de
desonesto na poesia, os poetas deveriam ser banidos”.
Todo pensamento que não estiver de acordo com a narrativa
oficial dos últimos 35 anos, será considerado pensamento antidemocrático e
deverá ser criminalizado e calado nesse país mágico, onde cartolas são tiradas
de traseiros de coelhos.
O que me remete a um fato ocorrido em Moscou em 1936 quando
um certo Andrei Zhdanov líder da Academia de Cultura, Teologia e Ideologia da
União Soviética, preocupado com o rumo liberal que a música estava tomando,
chamou para uma reunião uma série de músicos medíocres e de maneira imperativa
“explicou-lhes” que o que mais importa em uma composição musical é que essa possa ser cantarolada com a boca
fechada e terminou declarando que o que faziam Prokofiev,
Kachaturian e Shostakovich não passava de cacofonia alienante para
delírio de sua plateia adestrada.
Essa espantosa descoberta comunista parece estar em vigor
até hoje em nosso país.
Podemos pensar de tudo, desde que fiquemos com a boca
fechada.
Já liberdade, é uma outra história, que fica para uma outra
vez!
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