sábado, 11 de dezembro de 2021

 

Pai também é para sempre.

 

Por H. James Kutscka

 

Confesso que como Sísifo começo a cansar de carregar pedras morro acima para vê-las rolar morro abaixo.

A quantidade de estultícias a que me exponho diariamente começa cobrar seu preço.

Na semana passada depois de exposto a uma carga pesada de parvoíces nas várias mídias que consulto à diário, comecei a sentir umas dores de cabeça inusuais e resolvi medir minha pressão arterial:  22,1 por 9,7.

Fui verificar a procedência do aparelho portátil que tinha em casa, nenhuma surpresa era “Made in China” o que me deixou mais tranquilo, pensando: - deve estra errado, mas não a ponto de descartar checar assim que possível com meu médico e seu tradicional aparelho alemão, o que fiz nessa quinta-feira passada.

Para meu espanto, a bugiganga chinesa estava certa. Infelizmente a torrente de mentiras e o acelerar das restrições somado à obliteração das vozes dissidentes da mentira tornada oficial, havia finalmente afetado minha saúde.

Segundo meu médico, essa pressão alta era fruto da tensão ocasionada pela impotência diante dos fatos. Como sabiamente vaticinou Nelson Rodrigues os idiotas estão vencendo.

Mas voltando ao momento em que senti as dores de cabeça, naquele momento resolvi deitar um pouco e parar de ver notícias desagradáveis.

Fechei as janelas do quarto, recostei a cabeça no travesseiro, procurei esvaziar a mente, e na penumbra, creio que alguns minutos depois, naquela região entre o sono e a vigília vi meu pai que já nos deixou há dez anos sentar na cama a meu lado e sorrindo colocar a mão carinhosamente sobre meu ombro.

Devo ter sonhado, mas a presença dele naquele momento, nesses tempos onde tudo é motivo para insanas discussões de empoderamento feminino e identidade de gênero me levou ao título desse artigo, pois não apenas mãe é sempre mãe, alguns pais também são para sempre.

Por isso e pelo bem de minha pressão arterial, esse artigo vai dar uma folga para os candidatos a tiranetes de opereta que assolam nosso país e prestar uma homenagem a meu pai, pois com sua presença metafísica me recordou de uma canção, que ele, apaixonado por música que era, preciava especialmente.

Trata-se de “ De ves em cuando la vida” de Juan Manoel  Serrat e peço aqui licença a meus queridos leitores para citar  alguns trechos, não necessariamente na sequência  em que foram escritos  e comentá-los de maneira breve no contexto deste artigo:     

“De ves em cuando la vida

Nos pasea por las calles en volandas

Y nos sentimos en buenas manos 

Se hace de nuestra medida

Toma nuestro passo

Y saca um conejo de la vieja chistera

Y uno es feliz como um niño

Cuando sale de la escuela”.

Creio, querido leitores, que não é preciso traduzir. A presença, onírica ou não de meu pai e a lembrança dessas palavras da música que ele tanto apreciava, fez com que ele me levasse por um momento pela mão em um voo mágico, por uma época em que coelhos saiam de velhas cartolas, e depois de muitos anos, por um momento, me senti feliz como uma criança em meio a gritaria alegre quando acabavam as aulas e saiam da escola para o pátio.

É a vida feita à nossa medida, minha e de meu pai.

Uma imagem, que nesses tempos de obscurantismo em que estamos sendo atirados, representa para mim a inocente alegria da liberdade, a qual pouco a pouco nos está sendo roubada.

Então por hoje, e a conselho de meu pai, deixarei os canalhas em paz, mas não sem antes celebrar dois coelhos recém saídos da cartola para alegrar um pouco a vida de que ainda possui no cérebro dois neurônios capazes de dialogar: O Tribunal de Haia acaba de vetar a visita dos histéricos senadores da “CPI do Circo” que pretendiam ir lavar roupa suja na Holanda e muito provavelmente aproveitar para fazer um passeiozinho no distrito da “Red Light” às nossas custas. Para completar, a Interpol recusou o pedido de extradição de Alan dos Santos pelo crime de “sei lá o que” restando ao “careca moderador” somente a opção de tirar as cuecas e sapatear em cima de raiva.

Talvez ainda haja esperança!

É necessário estar vivo para lutar outro dia.

 

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