Pai também é para sempre.
Por H. James Kutscka
Confesso que como Sísifo começo a cansar de carregar pedras
morro acima para vê-las rolar morro abaixo.
A quantidade de estultícias a que me exponho diariamente
começa cobrar seu preço.
Na semana passada depois de exposto a uma carga pesada de
parvoíces nas várias mídias que consulto à diário, comecei a sentir umas dores
de cabeça inusuais e resolvi medir minha pressão arterial: 22,1 por 9,7.
Fui verificar a procedência do aparelho portátil que tinha
em casa, nenhuma surpresa era “Made in China” o que me deixou mais tranquilo, pensando:
- deve estra errado, mas não a ponto de descartar checar assim que possível com
meu médico e seu tradicional aparelho alemão, o que fiz nessa quinta-feira
passada.
Para meu espanto, a bugiganga chinesa estava certa. Infelizmente
a torrente de mentiras e o acelerar das restrições somado à obliteração das
vozes dissidentes da mentira tornada oficial, havia finalmente afetado minha
saúde.
Segundo meu médico, essa pressão alta era fruto da tensão ocasionada
pela impotência diante dos fatos. Como sabiamente vaticinou Nelson Rodrigues os
idiotas estão vencendo.
Mas voltando ao momento em que senti as dores de cabeça,
naquele momento resolvi deitar um pouco e parar de ver notícias desagradáveis.
Fechei as janelas do quarto, recostei a cabeça no
travesseiro, procurei esvaziar a mente, e na penumbra, creio que alguns minutos
depois, naquela região entre o sono e a vigília vi meu pai que já nos deixou há
dez anos sentar na cama a meu lado e sorrindo colocar a mão carinhosamente
sobre meu ombro.
Devo ter sonhado, mas a presença dele naquele momento,
nesses tempos onde tudo é motivo para insanas discussões de empoderamento
feminino e identidade de gênero me levou ao título desse artigo, pois não
apenas mãe é sempre mãe, alguns pais também são para sempre.
Por isso e pelo bem de minha pressão arterial, esse artigo
vai dar uma folga para os candidatos a tiranetes de opereta que assolam nosso
país e prestar uma homenagem a meu pai, pois com sua presença metafísica me
recordou de uma canção, que ele, apaixonado por música que era, preciava
especialmente.
Trata-se de “ De ves em cuando la vida” de Juan Manoel Serrat e peço aqui licença a meus queridos
leitores para citar alguns trechos, não
necessariamente na sequência em que
foram escritos e comentá-los de maneira
breve no contexto deste artigo:
“De ves em cuando la vida
Nos pasea por las calles en volandas
Y nos sentimos en buenas manos
Se hace de nuestra medida
Toma nuestro passo
Y saca um conejo de la vieja chistera
Y uno es feliz como um niño
Cuando sale de la escuela”.
Creio, querido leitores, que não é preciso traduzir. A
presença, onírica ou não de meu pai e a lembrança dessas palavras da música que
ele tanto apreciava, fez com que ele me levasse por um momento pela mão em um
voo mágico, por uma época em que coelhos saiam de velhas cartolas, e depois de
muitos anos, por um momento, me senti feliz como uma criança em meio a gritaria
alegre quando acabavam as aulas e saiam da escola para o pátio.
É a vida feita à nossa medida, minha e de meu pai.
Uma imagem, que nesses tempos de obscurantismo em que
estamos sendo atirados, representa para mim a inocente alegria da liberdade, a
qual pouco a pouco nos está sendo roubada.
Então por hoje, e a conselho de meu pai, deixarei os
canalhas em paz, mas não sem antes celebrar dois coelhos recém saídos da cartola
para alegrar um pouco a vida de que ainda possui no cérebro dois neurônios
capazes de dialogar: O Tribunal de Haia acaba de vetar a visita dos histéricos
senadores da “CPI do Circo” que pretendiam ir lavar roupa suja na Holanda e
muito provavelmente aproveitar para fazer um passeiozinho no distrito da “Red
Light” às nossas custas. Para completar, a Interpol recusou o pedido de
extradição de Alan dos Santos pelo crime de “sei lá o que” restando ao “careca moderador”
somente a opção de tirar as cuecas e sapatear em cima de raiva.
Talvez ainda haja esperança!
É necessário estar vivo para lutar outro dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário