O Sacripanta Tribunal Federal do Reino Encantado.
Por: H. James Kutscka
Era uma vez no Reino Encantado um tribunal destinado a
guardar e fazer respeitar as leis constantes de um livro sagrado onde teriam
sido elencados todos os direitos e deveres dos cidadãos, incluindo o próprio
rei e os membros de dito tribunal.
Como os membros do tribunal eram escolhidos pelo próprio
rei, tudo ia bem no reino da fantasia até o momento em que um reles capitão do
exército em um plesbicito popular ascendeu ao trono.
Descobriu-se então o conluio entre o deposto rei e os
ministros de seu tribunal de sacripantas. Vieram à tona as benesses dos até
então quase invisíveis ministros, seus banquetes com lagostas regados a vinhos
premiados vieram a luz para espanto de boa parte dos habitantes do reino, que
mal tinha para o pão, sua leniência com criminosos e com o narcotráfico que
mantinha milícias nos morros inexpugnáveis que cercavam as maravilhosas praias
do reino. Morros que abrigavam verdadeiras madraças de grupos terroristas nos
quais a polícia do reino estava proibida de subir ou mesmo sobrevoar por ordem
de um dos sacripantas ministros.
Postos a descoberto pelo capitão, ditos ministros usando de
suas prerrogativas legais, legislando ilegalmente outras, conseguiram soltar o
rei ladrão que se encontrava detido desde que foram descobertas suas falcatruas
e nada mais nada menos que instauraram outro plesbicito para recolocar o rei
amigo de volta no trono.
Para assegurar-se de que ele sairia vitorioso do escrutínio
popular, estabeleceram que a escolha seria feita através de votos em uma urna
eletrônica mágica, cujos votos seriam computados em uma sala secreta (puxadinho)
de seu ministério onde o milagre aconteceria.
Enquanto preparavam o golpe, lançaram toda espécie de acusações
contra o capitão e seus seguidores. Publicaram inúmeras falsas pesquisas de
opinião que mostravam o ex monarca ladrão como o virtual vencedor do futuro
plesbicito. Instauraram a censura no reino para as mensagens a favor do capitão
distribuídas por pombos correio que eram abatidos com tiros de calibre doze
pelos atiradores a serviço dos ministros, cooptaram a imprensa local e até
mesmo de outros reinos para dar voz aos detratores do homem que havia exposto suas
maracutaias, mostrando a quem quisesse ver, que uma instituição outrora
necessária e ilibada havia sido aparelhada pelo antigo rei e seus lacaios, que
nela infiltraram seus amigos para acobertar seus crimes e garantir sua
permanência no poder.
Tal reino à distinção de outros reinos da fantasia, não
possuía dragões como reinos similares costumavam ter, contava apenas e tão somente
com um regimento de dedicados “Dragões da Independência” (resquício de um
antigo império) que davam o ar de sua graça somente em ocasiões protocolares, e
de dragões, tinham somente o nome.
No reino em questão, infelizmente não existiam fadas
madrinha, embora bruxas não faltassem, (duas delas que não perdiam oportunidade
de lançar malefícios sobre o capitão e sua família) ocupavam cadeiras no tal Sacripanta
Tribunal.
Aos poucos os ministros desse tribunal sui generis, de ilegalidades
em ilegalidades, ocupou o espaço político do reino.
Liberdades foram suprimidas, prisões decretadas, novas leis
criadas, pensamentos dissidentes criminalizados, repórteres não de acordo com a
verdade oficial perseguidos dentro e fora do reino.
Para ocasiões assim o capitão que contra a vontade dos
ministros era adorado pelo povo, contava apenas com uma onça mágica que era a
encarregada de manter a lei, a ordem, a independência entre os poderes e a liberdade
no reino, mas o animal como tudo mais (menos é claro os ministros) nesse reino
de fantasia parecia estar encantada dormindo o sono dos justos.
Então um dia, o capitão atendendo ao convite de um reino
distante, outrora muito poderoso e dono de si, visitou-o e lá para surpresa de
todos foi recebido como herói.
Em sua homenagem populares saíram com ele em um passeio de
moto. O rugido dos inúmeros e potentes motores espantou os habitantes daquele
reino longínquo e foi impossível de ser ignorado pela imprensa, tal barulho fez
com que a onça embora distante, abrisse um olho e se desse conta do estado das
coisas.
Se a tomada de tento da onça mágica fez com que mudasse
alguma coisa naquele reino encantado tão cobiçado pelos agentes do mal, já será
uma outra história. História essa que fica para depois de outubro, de qualquer
forma ainda bem que isso é só fantasia.
Já aqui na realidade em que vivemos, queridos leitores, é
bom que se certifiquem de ficar bem acordados e não permitir que os ministros de
nosso Supremo Tribunal Federal lhes tirem o direito de duvidar de histórias
fantasiosas, diariamente impingidas pela velha imprensa em seus últimos
suspiros.
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