domingo, 6 de março de 2022



 

A coisa branca no cocô do passarinho.

Por: H. James Kutscka

 

Com este artigo, tenho a esperança de incentivar pelo menos alguns de meus queridos leitores, a reconsiderar   algumas certezas que a atual guerra (que diga-se de passagem, se alguém com o dedo nervoso apertar o botão terá sido a última que veremos), escancarou ou ainda irá escancarar se der tempo, e ainda de quebra. talvez perder alguns amigos mais radicais em suas crenças.  

Houve jamais um Deus? Ou tudo é resultado furtuito do acaso, da natureza exercendo dentro de seu direito à quase eternidade, praticar impunemente seu jogo de tentativas e erros.

Elohim, Shiva, Yhavé, Baal, Odin, Oxalá e tantos outros nomes não seriam apenas denominações dadas a uma cruel aspiração humana de servir a um patrão para o qual quanto mais se humilhasse e mostrasse admiração, maior seria a recompensa?

Talvez rumores de um passado distante, quando sair da relativa segurança da caverna à noite quase sempre representava a morte, o fim, o nada.

Ficar dentro dela também não garantia coisa alguma. 

E não havia nada a fazer.

Até que numa quarta-feira qualquer da pré-história, um protótipo de ser humano se transformou no objetivo principal da fome de um tigre de dentes de sabre. O fato somente não se consumou porque um outro tigre ainda maior que o primeiro, resolveu disputar com ele o petisco que corria inutilmente por uma savana. Em lugar de facilmente adiantar-se e dar cabo de nosso ancestral (comida que corria desesperadamente em busca de um abrigo inexistente), resolveu antes se engalfinhar com seu igual.

Sendo assim, enquanto os dois predadores tratavam de resolver suas diferenças, nosso primata conseguiu alcançar por milagre um abrigo (embora nem a palavra nem o conceito ainda existissem), jamais devemos subestimar a sagacidade do ser humano.

Embora com seu cérebro de primeira geração, com capacidade de armazenamento e troca de informações ínfimas, esse indivíduo, que de uma maneira improvável acabara de escapar da morte, pensou que tivera uma sorte muito especial.

Devia existir, mesmo que invisível a seus olhos, algo maior que ele, maior mesmo que os monstros que dominavam com sua ferocidade o mundo em que vivia. Algo ou alguém que apagava a luz todo dia envolvendo seu mundo em assustadora escuridão, e que depois de um tempo que parecia interminável, voltava a acendê-la. Já pensara algumas vezes sobre o assunto, embora não profundamente, seu cérebro ainda era muito dispersivo.

A novidade foi que nesse momento parece ter acontecido uma sinapse elétrica (é claro que ele não tinha ideia do que era que estava acontecendo), mas foi como um clarão no seu cérebro. Não só devia haver alguém no comando, como esse alguém aparentemente gostava dele, já que o havia salvado de ser o prato do dia de um felino gigantesco.  A alguém com tal poder seria prudente prestar homenagem, também lhe pareceu certo que deveria  compartir sua descoberta com os de sua tribo, dessa forma esse ser também os protegeria, pois mais e maiores seriam as homenagens, e porque não oferendas? Era justo pagar de alguma forma por proteção a algo tão poderoso.

Talvez então pudessem até pedir alguns favores.

Assim surgiu o primeiro pregador junto com o primeiro deus, se não foi assim me perdoem, (afinal, que me conste ninguém estava lá para conferir) mas esta é uma explicação tão boa como qualquer outra.

Com o tempo (sempre ele), rumores sobre uma tribo que adorava um deus que lhes protegia espalhou-se.

Se eles têm o deles, nós também podemos ter o nosso pensaram todos, então profetas e deuses proliferaram.

Cada deus sendo melhor que o anterior mais poderoso, mais pródigo e também mais rígido e intolerante com quem não o adorasse.

É claro que uma ideia tão boa como essa não demoraria muito tempo para virar um bom negócio para os que acreditavam em que a vida não passava de uma fatalidade do destino, devendo consequentemente, ser aproveitada da melhor maneira possível. Até aí, alguns milênios se passaram (como já sabemos a natureza não tem pressa).

Nessa época o cérebro humano já possuía a capacidade de somar dois mais dois, mesmo que as vezes o resultado não fosse 4 mas 22, e por isso mesmo, por ser dotado dessa habilidade de abstração, há muito tempo vinha tentando organizar o negócio com os deuses.  Todos intuíam o potencial da transação, mas faltavam os meios, faltava a logística, faltava a marca, o logotipo.

Então, não desprezando outros profetas anteriores e ou posteriores, nasceu Jesus, que claramente para quem lê as palavras que lhe foram atribuídas, foi o laranja do talvez maior conglomerado financeiro do mundo: A Igreja Católica.

Ela é só a maior e talvez mais bem organizada financeiramente de todas, outros profetas foram “laranjas” de outros conglomerados talvez menos bem-sucedidos financeiramente, mais nem por isso menos importantes.  

O estado Islâmico em pleno século XXI, degola “infiéis” em frente as câmaras para mostrar ao mundo o que acontece para quem não segue as palavras de Alá.

Seria Alá diferente de Jesus, Buda, Bhrama ou Odin?  Ou esses são apenas nomes para validar o que na verdade é a busca do poder econômico que financia o poder real? 

A utilização do medo para justificar guerras e toda espécie de atrocidades.

O “meu Deus é melhor que o seu” ainda vive na caverna que existe até hoje na mente do homem para justificar a execução dos que não pensam igual ele.

Vendo por esse ângulo não evoluímos muito, não é mesmo? Em termos de logística e lucros no entanto, fomos muito além de quem pela primeira vez imaginou ser um bom negócio vender para gente viva, benefícios que somente iriam receber depois de mortas. Na verdade, fomos além dos mais loucos sonhos.  Deus é enfim uma “commoditie”. 

Existem pregadores vendendo a incautos cadeiras no céu para quem não tem fundos para comprar uma casa no local, vendendo vassouras bentas para varrer o mal de sua casa, sabonetes para lavar seus pecados, balões inflados com ar dos bentos pulmões do pastor para você respirar na comodidade de seu lar.

Fico pensando na desilusão do pobre Jesus (que segundo a Bíblia, expulsou os vendilhões do templo), vendo um pouco da programação dos canais de TV que transmitem programação religiosa, hoje em dia interrompida momentaneamente, primeiro, pela “fraudemia”, e agora para delírio da plateia extasiada, pela possibilidade ainda que remota de um “Ragnarok” que eliminaria toda humanidade levando com ela os seus deuses.

Nossa vida atual se resume a uma receita de: necessidade, fé e pesadelo, misturados com um certo exagero do último ingrediente. Inútil buscar solução para o imponderável.

Como muito bem se expressou Kurt Vonnegut em um de seus livros a respeito de uma dúvida infantil sobre o que seria aquela coisa branca no cocô do passarinho: “Aquela coisa branca no cocô de passarinho é cocô de passarinho também”.

Simples assim.

“C’est tout la même merde” (creio não precisar traduzir).

Em todo caso como diria Freud: “De erro em erro vai se descobrindo a verdade”. Essa guerra nos está mostrando uma, se tudo der certo graças a um personagem inesperado saído de um país improvável, tradicional inimigo do ocidente, ainda não será desta vez que seremos dominados pelos agentes do mal     

Mas pelas dúvidas quem quiser rezar que o faça, esta é uma boa hora.

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