A coisa branca no cocô do passarinho.
Por: H. James Kutscka
Com este artigo, tenho a esperança de incentivar pelo menos
alguns de meus queridos leitores, a reconsiderar algumas certezas que a atual guerra (que diga-se
de passagem, se alguém com o dedo nervoso apertar o botão terá sido a última que
veremos), escancarou ou ainda irá escancarar se der tempo, e ainda de quebra. talvez
perder alguns amigos mais radicais em suas crenças.
Houve jamais um Deus? Ou tudo é resultado furtuito do acaso,
da natureza exercendo dentro de seu direito à quase eternidade, praticar
impunemente seu jogo de tentativas e erros.
Elohim, Shiva, Yhavé, Baal, Odin, Oxalá e tantos outros
nomes não seriam apenas denominações dadas a uma cruel aspiração humana de servir
a um patrão para o qual quanto mais se humilhasse e mostrasse admiração, maior seria
a recompensa?
Talvez rumores de um passado distante, quando sair da
relativa segurança da caverna à noite quase sempre representava a morte, o fim,
o nada.
Ficar dentro dela também não garantia coisa alguma.
E não havia nada a fazer.
Até que numa quarta-feira qualquer da pré-história, um
protótipo de ser humano se transformou no objetivo principal da fome de um tigre
de dentes de sabre. O fato somente não se consumou porque um outro tigre ainda
maior que o primeiro, resolveu disputar com ele o petisco que corria inutilmente
por uma savana. Em lugar de facilmente adiantar-se e dar cabo de nosso
ancestral (comida que corria desesperadamente em busca de um abrigo
inexistente), resolveu antes se engalfinhar com seu igual.
Sendo assim, enquanto os dois predadores tratavam de resolver
suas diferenças, nosso primata conseguiu alcançar por milagre um abrigo (embora
nem a palavra nem o conceito ainda existissem), jamais devemos subestimar a
sagacidade do ser humano.
Embora com seu cérebro de primeira geração, com capacidade
de armazenamento e troca de informações ínfimas, esse indivíduo, que de uma
maneira improvável acabara de escapar da morte, pensou que tivera uma sorte
muito especial.
Devia existir, mesmo que invisível a seus olhos, algo maior
que ele, maior mesmo que os monstros que dominavam com sua ferocidade o mundo
em que vivia. Algo ou alguém que apagava a luz todo dia envolvendo seu mundo em
assustadora escuridão, e que depois de um tempo que parecia interminável,
voltava a acendê-la. Já pensara algumas vezes sobre o assunto, embora não
profundamente, seu cérebro ainda era muito dispersivo.
A novidade foi que nesse momento parece ter acontecido uma
sinapse elétrica (é claro que ele não tinha ideia do que era que estava
acontecendo), mas foi como um clarão no seu cérebro. Não só devia haver alguém
no comando, como esse alguém aparentemente gostava dele, já que o havia salvado
de ser o prato do dia de um felino gigantesco.
A alguém com tal poder seria prudente prestar homenagem, também lhe
pareceu certo que deveria compartir sua
descoberta com os de sua tribo, dessa forma esse ser também os protegeria, pois
mais e maiores seriam as homenagens, e porque não oferendas? Era justo pagar de
alguma forma por proteção a algo tão poderoso.
Talvez então pudessem até pedir alguns favores.
Assim surgiu o primeiro pregador junto com o primeiro deus,
se não foi assim me perdoem, (afinal, que me conste ninguém estava lá para
conferir) mas esta é uma explicação tão boa como qualquer outra.
Com o tempo (sempre ele), rumores sobre uma tribo que
adorava um deus que lhes protegia espalhou-se.
Se eles têm o deles, nós também podemos ter o nosso
pensaram todos, então profetas e deuses proliferaram.
Cada deus sendo melhor que o anterior mais poderoso, mais
pródigo e também mais rígido e intolerante com quem não o adorasse.
É claro que uma ideia tão boa como essa não demoraria muito
tempo para virar um bom negócio para os que acreditavam em que a vida não passava
de uma fatalidade do destino, devendo consequentemente, ser aproveitada da
melhor maneira possível. Até aí, alguns milênios se passaram (como já sabemos a
natureza não tem pressa).
Nessa época o cérebro humano já possuía a capacidade de
somar dois mais dois, mesmo que as vezes o resultado não fosse 4 mas 22, e por
isso mesmo, por ser dotado dessa habilidade de abstração, há muito tempo vinha
tentando organizar o negócio com os deuses.
Todos intuíam o potencial da transação, mas faltavam os meios, faltava a
logística, faltava a marca, o logotipo.
Então, não desprezando outros profetas anteriores e ou
posteriores, nasceu Jesus, que claramente para quem lê as palavras que lhe
foram atribuídas, foi o laranja do talvez maior conglomerado financeiro do
mundo: A Igreja Católica.
Ela é só a maior e talvez mais bem organizada
financeiramente de todas, outros profetas foram “laranjas” de outros
conglomerados talvez menos bem-sucedidos financeiramente, mais nem por isso
menos importantes.
O estado Islâmico em pleno século XXI, degola “infiéis” em
frente as câmaras para mostrar ao mundo o que acontece para quem não segue as
palavras de Alá.
Seria Alá diferente de Jesus, Buda, Bhrama ou Odin? Ou esses são apenas nomes para validar o que
na verdade é a busca do poder econômico que financia o poder real?
A utilização do medo para justificar guerras e toda espécie
de atrocidades.
O “meu Deus é melhor que o seu” ainda vive na caverna que
existe até hoje na mente do homem para justificar a execução dos que não pensam
igual ele.
Vendo por esse ângulo não evoluímos muito, não é mesmo? Em
termos de logística e lucros no entanto, fomos muito além de quem pela primeira
vez imaginou ser um bom negócio vender para gente viva, benefícios que somente
iriam receber depois de mortas. Na verdade, fomos além dos mais loucos
sonhos. Deus é enfim uma
“commoditie”.
Existem pregadores vendendo a incautos cadeiras no céu para
quem não tem fundos para comprar uma casa no local, vendendo vassouras bentas
para varrer o mal de sua casa, sabonetes para lavar seus pecados, balões
inflados com ar dos bentos pulmões do pastor para você respirar na comodidade
de seu lar.
Fico pensando na desilusão do pobre Jesus (que segundo a
Bíblia, expulsou os vendilhões do templo), vendo um pouco da programação dos
canais de TV que transmitem programação religiosa, hoje em dia interrompida
momentaneamente, primeiro, pela “fraudemia”, e agora para delírio da plateia
extasiada, pela possibilidade ainda que remota de um “Ragnarok” que eliminaria
toda humanidade levando com ela os seus deuses.
Nossa vida atual se resume a uma receita de: necessidade,
fé e pesadelo, misturados com um certo exagero do último ingrediente. Inútil
buscar solução para o imponderável.
Como muito bem se expressou Kurt Vonnegut em um de seus livros
a respeito de uma dúvida infantil sobre o que seria aquela coisa branca no cocô
do passarinho: “Aquela coisa branca no cocô de passarinho é cocô de passarinho
também”.
Simples assim.
“C’est tout la même merde” (creio não precisar traduzir).
Em todo caso como diria Freud: “De erro em erro vai se
descobrindo a verdade”. Essa guerra nos está mostrando uma, se tudo der certo
graças a um personagem inesperado saído de um país improvável, tradicional
inimigo do ocidente, ainda não será desta vez que seremos dominados pelos
agentes do mal
Mas pelas dúvidas quem quiser rezar que o faça, esta é uma
boa hora.
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