Mr. Wong
Por H. James
Kutscka
Todo mundo conhece, e se não conhece deveria conhecer o
personagem (assim mesmo, no singular, pois trata-se da mesma pessoa) Dr. Henry
Jekyll e o senhor Edward Hyde, conhecidos de maneira mais popular por Dr.
Jekyll e Mr . Hyde, do primeiro livro a ter um personagem com dupla
personalidade, fenômeno nomeado mais tarde na psiquiatria como TDC (transtorno
dissociativo de caráter).
Era 1886 e Robert Louis Stevenson, que já em 1883 havia
encantado o mundo das letras com “A Ilha do Tesouro”, lançava um romance gótico
que poderia ser considerado (utilizando-me de uma expressão atual um “blockbuster”),
“O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde” popularmente conhecido como “O
Médico e o Monstro”
O sucesso foi tal que em 1920 o livro virou filme (ainda
mudo) dirigido por John S. Robertson com John Barrymore no papel principal.
A história não perdeu seu encanto e em 1941 voltou às telas
em uma superprodução com Spencer Tracy, Ingrid Bergman e Lana Turner dirigidos
por Victor Fleming, o mesmo diretor que um ano antes havia ganhado o Oscar pela
direção de “Gone With the Wind”.
O tema do transtorno dissociativo de caráter volta a ser
explorado no cinema em 1957 no filme “As Três Faces de Eva” baseado no romance
do mesmo nome de Corbeth H. Thigpen
e Hervey M. Cleckley (esses sim
duas pessoas diferentes) então com
Joanne Woodward interpretando as três personalidades: Eve White, Eve Black
e Jane (sem comentários sobre os nomes da personagem para evitar as patrulhas racistas).
Tudo isso para chegar a nosso Mário Quintana, poeta
preferido de meu pai e um poema seu: “O Estranho Caso de Mr. Wong”, nele Quintana descreve um médico
altruísta, Dr. Jekill, Mr. Hyde um “desrecalcado” e uma terceira personalidade:
um chinês, Mr Wong, todos habitando o mesmo corpo. O poeta os coloca em um camarote de teatro
onde Dr. Jekill compenetrado presta atenção no que é encenado no palco, Mr Hyde
arrisca um olho no decote da senhora vizinha, enquanto Mr Wong completamente
alienado ao que se passa ao redor encontra-se ocupado contando carecas na
plateia.
Os fatos das últimas semanas, onde beócios ofendem com sua
obtusidade e prepotência médicas consagradas em uma CPI digna de teatro
mambembe, tentando impingir a culpa das
mortes pela praga chinesa ao nosso presidente sem que haja uma resposta à
altura por parte das autoridades ou
mesmo da população de bem (com a honrosa exceção da Associação Médica Brasileira que
pediu para ser ouvida na CPI e do Simers “Sindicato Médico do Rio Grande do
Sul”, que emitiu uma nota de repúdio pelo tratamento dispensado pelos “inquisidores”
à Dra, Nise), me leva a crer que a
maioria de nossa população leva dentro de si como um parasita intra celular
obrigatório (a maneira de dizer aquela palavra, começada com “V” que não deve
ser escrita para evitar ser proscrito das redes) um Mr. Wong personalidade que
independente da coincidência oriental do momento, parece estar presente há muito tempo no inconsciente
de nosso povo e que no momento esta preocupado com algo mais importante: como quantas
pessoas estavam sem máscara ao redor do presidente no último evento para
informar aos repórteres .
Ninguém se levanta para citar não o número de mortos, mas os
milhões que foram salvos graças ao tratamento precoce, ou a espetacular
recuperação da economia que cresceu acima dos quatro por cento, mesmo diante do
saque feito aos cofres federais para prefeitos e governadores combaterem a “fraudêmia”.
Os milhões de Mr. Wongs entram no armário e vão para
Nárnia, enquanto os Hyde incorporando Torquemada no auge do seu estrelato na
Inquisição espanhola, prepara a fogueira para Dra. Nise Yamaguchi e Dra. Mayra
Pinheiro (cujo único erro foi haver aceitado o cargo de Secretária do
Ministério da Saúde) duas médicas que ousaram desafiar a narrativa conveniente
aos Hyde, que no momento são a personalidade dominante do transtorno
dissociativo de caráter que abrange a política brasileira.
Estamos juntos no teatro de Quintana assistindo ao vivo uma
encenação de “Os Médicos e os Monstros” com a participação especialíssima do Mr.
Wong que habita os labirintos do cérebro da maioria dos brasileiros com direito
a transmissão por televisão.
Enquanto escrevia este artigo perdi a noção do tempo.
Lá fora a noite “caiu” sem emitir nenhum ai.
Olho para meu pulso esquerdo para ver as horas e lá está o
velho relógio Ômega sem luxo, mas honesto em seu dever de marcar as horas, comprado
por meu pai na Suíça. Seu coração batendo perfeitamente em sincronia com cada
segundo invisível que passa, sobreviveu a meu pai e muito provavelmente
sobreviverá a mim (os ladrões só gostam de Rolex), como na poesia de Quintana,
o que encantava meu pai, era a simplicidade muitas vezes intrincada em seu
interior que dispensa adornos exteriores.
Ficará talvez para meu filho que o esquecerá em uma gaveta
para a eternidade, já que jovens não usam mais relógios, os telefones de hoje fazem
tudo. Penso que seria importante alguém desenvolver um aplicativo para falarmos
com o além.
Seria muito bom para matar a saudade de meus queridos velhos
e pedir-lhes alguns conselhos, também para falar com amigos que se foram sem a
delicadeza de se despedir. dos quais sinto falta para discutir o bizarro
espetáculo que estamos sendo obrigados a assistir pela inanição de quem deveria
ter posto um fim na paródia já há muito tempo.
Por último, um conselho de Mr. Wong o contador de carecas:
Sentindo-se mal procure um jornalista ou político, eles entendem tudo de
medicina, esqueça os médicos, eles são bons mesmo é para espalhar fofocas, para
defender nossa democracia e a lei conte sempre com a sabedoria e justiça dos “Iluministros”
do Supremo e com os Generais estrelados que se rebelam contra decisões do Chefe
Supremo das Forças Armadas.
Como com propriedade diria Asterix: - Não temos nada a
temer a não ser que o céu nos caia sobre a cabeça, o que “pelo andar da
carruagem” pode até vir a acontecer.
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